Estou me sentindo culpada de retornar aos temas de mulher católica da classe trabalhadora, enquanto mulheres Palestina sofrem ataques violentos por parte de homens desumanos e a humanidade inteira é desumanizada em ataques brutais.
Mas é a própria poesia que vem me salvar e me diz:
“Tudo está interligado, como se fossemos um, tudo está interligado nessa causa comum”.
Então me lembrei da teoria Gaia, lida em algum artigo perdido de uma revista qualquer e guardada na memória com uma espontaneidade, que só pode ter se alojado na parte do cérebro que guarda a esperança:
“Uma borboleta azul, batendo as asas na Argentina, por uma série de fatores ocultos, está relacionada com um vendaval na Austrália”.
E assim me deixei levar pela poesia e me pus a escrever sobre amor e busca interior de desenvolvimento, na esperança de que isso, de alguma forma misteriosa, aplaque a ira de ataques injustos contra a nossa humanidade e fortaleça as vítimas.
Me perdoem a esperança infantil, mas é que em tempos de barbárie tecnológica, resta-nos a esperança sutil de sonhos oníricos sonhados acordados.
É que de novo me lembro, e desta vez é Rubem Alves que me salva dizendo:
“DEUS É UMA PALAVRA QUE SE PRONUNCIA QUANDO TODAS AS ESPERANÇAS HUMANAS SE ACABAM”.
Nos debates e aprofundamentos recentes, apareceu o conceito de AMAR A SI MESMO. Amar a si mesmo mais que aos outros, mais que os filhos, dentro daquele conceito de orientação de emergência de avião, onde temos de colocar as máscaras primeiro em nós e depois nas crianças, porque precisamos estar bem para cuidar dos outros.
Em um primeiro momento esse tema me incomoda, porque parece-me essencialmente capitalista e a situação do avião em pane é muito peculiar e que, na vida cotidiana do cristão, o sentido básico é cuidar do outro.
E existe também aquela música católica que diz:
“Amar-te mais que a mim mesmo, amar-te mais que aos mais queridos, amar-te mais e viver a vida só para amar”.
Mas todavia, contudo, dentro desse vício espontâneo de olhar mais de perto os conteúdos que a vida me traz, pois tenho a impressão de criança de que em tudo pode haver uma pérola escondida, lembrei-me que meu pai sempre me dizia:
“PENSE EM VOCÊ”.
E lembrei-me também, com esse modelo de pensamento esbaforido, que eu sempre tive dificuldade de entender o que o meu pai queria dizer. Acho que ele estava se referindo a coisas muito práticas, como:
- Não saia de casa sem comer, pois não sabe o que vai encontrar.
- Trabalhe pelos seus sonhos e projetos.
- Fique viva.
- Não deixe ninguém "pisar em você".
Quando eu fazia faculdade e não tinha tempo para nada e comecei a emagrecer escandalosamente, minha mãe conversou com meu pai e ele mesmo me contou que falou para ela “- Se a NILCEIA QUER SE MATAR PARA CONQUISTAR OS OBJETIVOS, QUE SE MATE”.
Assim lembrei-me que, para o meu pai, trabalhar pelos sonhos era mais importante que a própria vida ou a própria vida era sinônimo de trabalhar pelos sonhos.
E encontrei em uma agenda antiga uma frase que veio a calhar em um momento que oriento mulheres que estão vivendo em relação abusivas:
“Eu não fui embora porque eu deixei de te amar. Eu fui embora, porque quanto mais eu ficava menos eu me amava” - Rupi Kaur.
Então lembrei-me de Fernando Pessoa:
“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a
lua toda
Brilha, porque alta vive”.
Fernando Pessoa, Odes de Ricardo Reis, Lisboa 1946, página 148.
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