Perdi um grande amigo… Então as pessoas me perguntam:
“VOCÊ ESTÁ BEM?”
Nunca sei o que responder.
Às vezes penso que, por trás da pergunta, existe uma certa dose de cobrança, de acusação. Vivemos em uma sociedade em que se tornou proibido sentir, que dirá sofrer!
Outras, percebo uma preocupação genuína, um desejo de acolhimento e compaixão, associada a uma sensação desagradável de não saber o que fazer com o sofrimento do outro que nos chega e nos sensibiliza.
Ainda existem aquelas pessoas que possuem uma total falta de habilidade de acolher o sofrimento alheio. Existem também as que te perguntam como você está e não esperam a resposta, simplesmente não te deixam falar.
Como o tempo do luto é um tempo que se “arrasta” por si só, levando ao corpo um cansaço estranho e à alma uma sensação de perda dos sentidos, porque existe sempre uma lágrima ocultando a visão, um grito interno sobrepondo aos sons do ambiente, um medo e um desejo do abraço amigo que se foi, a ausência de cheiros e o paladar agradável de cafés, bolos e doces partilhados com alegria infantil.
É dentro desse tempo “arrastado” pelo peso de sentimentos que se sobrepõe a minha saudade, que decidi responder a todos de uma só vez:
- Estou bem o suficiente para me comunicar com quem amo;
- Forte o bastante para levantar da cama todos os dias, resgatar algumas lutas e ajudar pessoas que me pedem socorro;
- Tranquila o suficiente para dormir todas as noites mergulhada na dor da ausência;
- Sensível o bastante para ficar alerta e apreensiva com uma mudança de agenda/cronograma, porque tudo pode desmoronar a qualquer momento;
- Grata pelas pessoas que tem me amparado;
- Feliz porque existem pessoas que se transmutam em anjos e vêm ao meu socorro com cuidados gentis e propostas concretas de esperança.
- Consciente de que preciso do outro para manter-me de pé.
- Consciente de que tudo é transitório e isso é assustador.
Mas principalmente, consciente de que a ideologia capitalista de que somos capazes sozinhas, é uma pura falácia e que não há meritocracia forte o bastante capaz de suportar a dor da perda sem apoio de outros.
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