LUTO?
LUTO - APENAS LUTO.
"Estamos construindo uma sociedade onde as pessoas NÃO SABEM curar gripe, tocar violão, fritar ovo, fazer churrasco..." e a lista continua...
Ouvi a citação acima na época da faculdade. Me lembro vagamente que a frase é de Paulo Freire.
Hoje acrescento outro item que nossa sociedade não sabe mais fazer:
Suportar a tristeza do outro, em especial a tristeza do luto.
Após a perda de alguém amado, somos chamadas, convidadas e até mesmo ameaçadas a retornar rapidamente para a "lida" do cotidiano com uma pressa condizente com a pressa de salvar uma vida.
As pessoas chegam até nós, com frases prontas, convidativas para o combate, dando a entender que devemos transformar o coração rapidamente em outro sentimento, para atender a pressa do sistema capitalista.
É como se nos dissessem que o TEMPO URGE e devemos retornar, correr, correr, correr...
Na dinâmica da pressa não importa as lágrimas nos olhos, o olhar cansado, a perda ou o ganho de peso, demonstrando expressamente que as forças para encontrar o sentido do movimento da vida, está acabando, se exaurindo...
No paradoxo das expressões mal ditas, esse apressar a passagem pela dor condiciona a ficar mais um tempo, mais um pouco.
É o desperdício de energia de lutar contra, construindo internamente um embate no qual não temos a menor chance de sairmos vencedoras - porque a dor emocional se impõe por si mesma, e não é uma filha obediente dos caprichos de uma sociedade que reconhece como legítima apenas a alegria fugaz.
Quero fazer um movimento social solitário, no oposto dos opostos da pressa capitalista.
Quero o meu direito de ficar, de estar, de sentir saudades e ser saudade, na calma de gestos suaves que acalentam o coração.
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