INTRODUÇÃO:
Durante anos atendendo casos de assédios, cheguei a algumas conclusões peculiares:
- Mulheres são as grande vítimas de assédio e denunciam mais;
- Homens também são vítimas de assédio, denunciam menos e possuem menos resiliência para suportá-lo, demonstrando mais possibilidade de reagir com violência contra o assediador ou contra si mesmo.
- As vítimas, independente do sexo, NÃO desejavam vingança ou mesmo a punição - advertência, perda de cargo ou demissão -, do assediador. Seu desejo primordial é que a situação de assédio se encerre - que ocorra MUDANÇA na dinâmica grupal.
- Quanto ao assediador, encontrei mais assediador masculino. Mas, não saberia dizer se isso é devido à personalidade ou ao fato de terem mais homens exercendo cargos de liderança do que mulheres. Encontrei mulheres que também assediavam. Estou propensa a pensar que, no que se refere a prática do assédio, o tema é democrático, tanto homens como mulheres, em função de poder, o praticam.
- O assédio nunca é individual - não me deparei com aquele assediador clássico dos filmes, aquela personalidade egocêntrica e manipuladora, com força o suficiente para manipular sua vítima e dominá-la sozinho -, isso não significa que ele não exista. Todos os assédios que tive a oportunidade de intervir ou apenas acompanhar como observadora, o assediador tinha apoio de parte do grupo de funcionários, normalmente as chefias e a omissão de outros membros do grupo.
- O assédio nunca é individual - todas as vezes que um grupo de trabalho se posicionou contra o assédio, este cessou. Em alguns casos ocorreram mudanças significativas no processo grupal e na dinâmica das relações de trabalho entre chefias e subordinados.
- Questões de raça, gênero e opção sexual estão presentes e são determinantes na "escolha da vítima", mas é quase impossível provar. O que me leva aos próximos itens.
- É muito raro encontrar uma vítima que faça uma associação entre a existência do assédio e o modelo capitalista de produção.
- Assediadores são pessoas inteligentes, com grande capacidade de articulação dentro das relações sociais, conhecem muito bem como funciona o sistema capitalista e as dinâmicas grupais e sabem se "movimentar" muito bem dentro desse sistema, utilizando a manipulação para aprisionar sua vítima.
É a partir dessas percepções da realidade que construí o meu próprio estilo de intervenção e vou compartilhá-las com vocês nos próximos dias.
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