segunda-feira, 6 de março de 2023

ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA DENOMINADA ASSÉDIO MORAL GERENTE TAMBÉM É GENTE


Concordo plenamente - gerente é gente, mas é gente que ganha mais - e que, portanto, seguindo os princípios da própria ideologia neoliberal, deveria oferecer respostas inteligentes para os desafios.

Existe uma dinâmica, sem dúvida alguma, injusta, de "JOGAR" a carga dos problemas para os subordinados que ganham menos.

Muito se fala em inversão de valores – mas pouco se avança em direção à superação do tema. Uma das inversões de valores muito comuns no Brasil é em relação às pessoas que ocupam cargos de liderança em todos os níveis. Acho interessante como as pessoas que ganham mais, se colocam em situações de vítimas, sem oferecer respostas significativas para as soluções dos problemas – seja na relação de trabalho ou na sociedade. Parece-me que, quanto mais poder, mais desculpas.

Me lembro de um antigo gestor. Era uma ótima pessoa, seguia as leis trabalhistas “à risca”. Mas tinha um mau humor insuportável. Uma vez, depois dele me irritar muito, comentei com a segurança do local de trabalho: “Ele é uma “boa” pessoa, mas possui um humor insuportável, se ganhasse o que eu ganho, como seria?” Achei muito engraçada a resposta da vigia (trabalho terceirizado), que criou uma filha sozinha, ajudava a cuidar da neta, colaborando, inclusive financeiramente, para que a filha pudesse estudar: 

“E SE GANHASSE O QUE EU GANHO ENTÃO! ESTARIA NA RUA, MORDENDO RABO DE CACHORRO VIRALATA, DE TANTO NERVOSO!”

Amei a metáfora, por demonstrar o desespero da classe trabalhadora, em especial a mulher, que trabalha para sua subsistência e consegue ajudar os seus a sobreviverem e irem atrás dos seus sonhos. 

No texto de 28/02/2023 deixei claro que, independente do papel social que ocupe, a classe trabalhadora está LUTANDO PARA SOBREVIVER. Mas, comparei as chefias atuais com os capatazes da época da escravidão. E como, devido às conquistas dos sindicatos para regulação legal do trabalho humano, não podem usar de violência física, utilizam os mais diversos tipos de ameaça como demissão, exclusão do plano de carreira, regulação injusta de treinamento, "brincadeiras" humilhantes para manter o controle abusivo da classe trabalhadora. 

Alguém precisa dizer aos gerentes, as chefias, que eles ganham mais para fazer a conciliação entre o sistema capitalista, que corrói e mata, e os membros da classe trabalhadora sobre sua responsabilidade. E então, que o façam com maestria. E hoje em dia, não existem desculpas para não fazer isso, é só fazer uma consulta básica no Google, que estarão ali várias palestras e cursos gratuitos de orientação para uma gestão humana equilibrada. Se, ideologicamente não sigo as teorias de administração, tenho conhecimento suficiente para saber que alguns aspectos delas, praticados com eficiência, pode sim, diminuir, e muito, o sofrimento cotidiano da classe trabalhadora. E acredito que diminuiria também o trabalho dos próprios sindicatos, que precisam se desdobrar para o enfrentamento dos casos pontuais de assédio, segurança e saúde no trabalho e o enfrentamento da luta por políticas públicas e leis trabalhistas com poder de regulação.

Mas nem tudo é desespero. Tenho histórias de gestões humanizadas em momentos cruciais de ataque do capitalismo à classe trabalhadora, que valem a pena ser partilhadas:

- DIMINUIÇÃO DO NÚMERO DE SEGURANÇA: a empresa já havia decidido, alguém seria demitido. Todos da equipe sabiam. O gerente responsável chamou todos individualmente e conversou. Sabia que sua decisão estava DECIDINDO A “VIDA” E, PORQUE NÃO DIZER, A “MORTE” do trabalhador e suas famílias. Angustiado, na conversa, confirma algo que já sabia. Um dos seguranças estava prestes a se aposentar, se fosse demitido naquele momento, por alguns meses, perderia a oportunidade de entrar com o pedido de aposentadoria. Então o GERENTE, humanamente preserva esse funcionário da demissão, mesmo ele sendo mais velho e, portanto, a sua produtividade não sendo tão espetacular. Mas, ao conversar com os outros dois funcionários, descobriu que um deles estava prestes a pedir demissão, pois tinha um trabalho em vista. 

- POSTOS DE TRABALHO DIMINUÍDOS EM 70%: neste caso, quem coordenou o processo foi uma mulher. Já se sabia que ocorreria uma diminuição de equipe. Acreditava-se que em 30%. Mas, a reestruturação diminuiu em 70% os postos de trabalho. Todos da equipe sabiam dessas informações. Durante todo o processo, sabiam que postos de trabalho seriam cortados e qual a proporção dos cortes. Nada foi escondido. Quando a decisão chegou, a COORDENADORA reuniu toda a equipe, repassou todas as informações, tirou dúvidas e deixou claro, com uma certa emoção, que estava na coordenação do grupo que faria o processo de seleção que eliminaria 70% do número de funcionários. Deixou claro que, em caso de empate no processo seletivo, a decisão final seria dela e fez um pedido em público: “SE ALGUÉM AQUI TEM OUTROS POSTOS DE TRABALHO, PEÇO QUE NÃO SE INSCREVAM NESTE PROCESSO SELETIVO, PORQUE, SE NO FINAL EU TIVER QUE DECIDIR, ESCOLHEREI QUEM ESTIVER DESEMPREGADO. Além disso, a própria equipe COORDENADORA ajudou os seus membros a encontrar outras colocações no mercado. Me lembro que, até o dia da posse, havia na sala colegas aguardando a resposta de outros trabalhos, para decidirem se poderiam abrir mão da vaga para outro colega que estava desempregado. E ACREDITEM, TUDO DEU CERTO! Ninguém daquela equipe ficou 100% desempregado. 

Termino, lembrando uma frase do Evangelho: 

“Dai a César o que é de César, dai a Deus o que é de Deus.”

E, peço licença aos entendidos de Bíblia, aos teólogos, padres e pastores, para “tomar posse” desse pensamento, expandindo-o para um exercício de uma RESPONSABILIDADE SOCIAL, onde se dá a Deus o que é de Deus, a César o que é de César, a Classe Trabalhadora o que é da Classe Trabalhadora e, dentro da Classe Trabalhadora, DAI A CADA MEMBRO AS RESPONSABILIDADES COMPATÍVEIS COM O SEU CARGO, OU SEJA, DAI AOS GESTORES O QUE É DOS GESTORES – responsabilidade ética e humana para decidir a “vida” e “morte” dos trabalhadores sob sua responsabilidade…

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