"A QUESTÃO CULTURAL"
Brincadeiras fazem parte da tradição cultural POPULAR no Brasil. Aprendemos desde criança a "brincar" com os outros e conosco. Essa é uma das características que dão "leveza" ao que se chama cultura popular brasileira.
Mas quando o assunto é a VIOLÊNCIA DO ASSÉDIO, as "brincadeiras" se tornam agressão, com um detalhe mórbido: “É quase impossível provar que é AGRESSÃO.” No final, tudo era só "brincadeira", e muitas vezes, o ocorrido se torna CULPA DA VÍTIMA, que é acusada pelo grupo de não saber brincar, não é forte o bastante, não tem controle emocional e etc.
Vou dar um exemplo que já aconteceu comigo:
Estava muito feliz por uma série de motivos pessoais. Cheguei no local de trabalho e, ao cumprimentar a recepcionista, demonstrei essa alegria, dando um pequeno gritinho - desses que a gente vê em filmes americanos - o gerente automaticamente teve uma reação negativa, falando em voz baixa algo do tipo: “Olha como ela chega no trabalho.” Todos os colegas apoiaram o superior, começando a falar baixo e rindo. Eu ouvia apenas o pronome "ela". Conclui, pelo contexto, que estavam falando de mim. Mas, simplesmente é impossível provar que estavam rindo de mim, me humilhando.
Outro detalhe importante é que não existe qualquer semelhança de comportamento em relação aos outros colegas, muito pelo contrário, existe até o apoio ao comportamento expansivo da equipe - falar alto, seja em situação de brincadeiras ou mesmo discussão de caso.
Esse comportamento expansivo da equipe, produz excesso de barulho no ambiente de trabalho, atrapalhando e até mesmo, impossibilitando o meu processo de aprendizado.
A questão é que, com o assédio, vale o princípio condenado em Provérbios - dois pesos, duas medidas. O outro pode, você não.
E é assim, que algo bom, as brincadeiras sociais, é transformado em algo não apenas ruim, mas profundamente maléfico que pode levar a(o) outra(o) ao desalento, que pode levar a crises de ansiedade, depressão profunda, e até mesmo ao derradeiro ato do desespero - a retirada da vida para tentar destruir o sofrimento.
No exemplo acima, existem vários itens a serem analisados:
1- A vítima de assédio é colocada em um estado de CONSTANTE VIGILÂNCIA.
Mas é quase impossível manter-se vigilante quando se está feliz, como disse, a tristeza pode ser enfrentada sozinha, mas A ALEGRIA PRECISA SER COMPARTILHADA.
2- Muitas vezes, como mulheres da classe trabalhadora, fazemos de conta que está tudo bem, e nos propomos a reelaborar nossas manifestações de alegria, para permanecermos em nossos trabalhos, que nos possibilita o pão de cada dia.
3- Fazemos disso um exercício espiritual proveitoso, que nos fortalece, possibilita desenvolvimento interior e espiritual, enquanto nos preparamos para ajudar outras mulheres a enfrentar a situação.
4- É quase impossível provar que é assédio - eu jamais ligaria para a ouvidoria ou mesmo o sindicato, em um caso desses. Posso até ver as desculpas - não, não é assim, você NÃO entendeu direito, eles estavam falando de outras coisas...Você é muito sensível e/ou "encanada" - está fazendo terapia, indo no psiquiatra?
E assim, a vítima de assédio segue a vida, com um pouco mais de angústias a processar, a auto estima um pouco mais abalada e, porque não dizer, com dúvidas sérias sobre a sua capacidade de ver e analisar a realidade.
ASSÉDIO É VIOLÊNCIA - COMBATA!!!
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