Faz quinze anos que fui chamada em um concurso para trabalhar em outra cidade. Normalmente eu voltava para casa na sexta-feira à noite, mas nesse dia, por um motivo que não sei qual, eu decidi voltar no sábado à tarde.
A história que vou contar está presente em minha memória, mas, às vezes, eu a acho tão absurda que me pergunto se a fantasiei. Tenho, em defesa da verdade da minha história, o fato que não sou exatamente uma pessoa de muitas imaginações. Muito menos imaginação de narrativa. Meu material de trabalho, o insumo da minha alma, é a REALIDADE e todas as REVERBERAÇÕES reflexivas advindas dela.
Sendo assim, após essa defesa da veracidade da minha história, me ponho a contá-la para discutir um tema bem atual - o tempo, a pressa, o fluxo da informação.
Tinha de voltar para minha cidade, para isso precisava tomar um ônibus circular até a cidade vizinha, para depois tomar outro ônibus. Como sempre, saí em cima da hora da minha casa que ficava próxima a uma larga avenida, com um também largo canteiro de grama dividindo as vias. Fui andando na diagonal para "ganhar tempo". A uma boa distância de onde eu estava, havia um ônibus parado no ponto que bloqueava totalmente a minha visão dos carros que vinham em minha direção. Enquanto eu andava na diagonal, observei do outro lado da avenida um casal com uma criança, e percebi que a mulher falava algo para o seu provável marido, enquanto ele parecia persuadi-la que aquilo não tinha importância. Ela continuava conversando com ele e parecia que ela estava se exaltando, provavelmente porque ele parecia não lhe dar atenção. Eu vendo a cena, e com o meu raciocínio feminino "esbaforido" dentro da minha pressa, consegui pensar que aquela moça estava sendo chata, porque estava discutindo algo com o companheiro no meio da rua. Eu seguia na diagonal e o casal vinha atravessando o canteiro bem na minha direção. A mulher se agitando cada vez mais com o seu companheiro. Quando de repente ela, do outro lado da rua, no meio fio do canteiro, olha fixo para mim que estou do lado oposto e grita:
- “NÃO VAI DAR TEMPO!”
Em uma fração de segundos entendo que ela esteve o tempo todo falando de mim e para mim.
Diante do olhar e do grito dela, eu paro e recuo para trás um passo e, neste mesmo segundo, passa por mim um carro em altíssima velocidade.
Eu dou um sorriso, olho para ela com gratidão e falo carinhosamente: - “ Realmente não ia dar tempo.”
O que aconteceu de fato é que, eu andando na diagonal e com o ônibus parado no ponto, eu não tinha visão do que estava acontecendo à longa distância na avenida e nunca ia imaginar que um carro andasse naquela velocidade dentro de uma cidade.
Essa história será analisada de diversas perspectivas, inclusive na perspectiva política/ideológica no próximo texto.
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