Reverberações texto de 28/11/2022
1- Quando penso neste acontecimento, me lembro da teoria de Inteligências Múltiplas de Gardner.
Sem dúvida alguma aquela moça era detentora de uma inteligência espacial muito elevada. A ponto de perceber a movimentação dos corpos no espaço e calcular espontaneamente o perigo desses corpos em movimento. Eu, com minha inteligência verbal sempre ativa, estava vivendo a situação totalmente alheia ao movimento dos corpos ao meu redor, colocando-me em risco a partir do meu modelo de pensamento e organização, onde ser um corpo andando pela rua é apenas um meio para chegar a um fim - voltar para casa.
Fico pensando que ela poderia ser uma bela estudante de física ou uma competente bombeira, calculando riscos apenas com um olhar na fração de segundos.
Mas, pela cena vivida, me parece agora que era apenas alguém considerado inconveniente pelo companheiro ou mesmo pela pessoa com a qual estava preocupada.
Isso se não for considerada louca, por viver vendo perigos onde ninguém mais vê.
Desejo sim que ela encontre na vida espaço simbólico para viver plenamente seu modelo de inteligência e continue salvando outras pessoas.
2- Empatia:
Neste contexto, empatia é colocar os dons, carismas e habilidades em benefício do outro - no "causo" relatado no texto NÃO VAI DAR TEMPO! de 28/11/2022, uma desconhecida que provavelmente nunca mais me verá, estabeleceu comigo uma comunicação caótica que salvou minha vida.
3- O Tempo:
Na história contada tudo se passa muito rápido. Não sei quanto tempo exatamente. Talvez apenas segundos. Talvez menos tempo que se demorou para ler a história. Ficou para mim a experiência que tudo pode mudar de um minuto para outro. A vida, a experiência, os compromissos, podem assumir novos significados em uma fração de segundos.
4- Espiritual:
Existe uma teoria na internet, que eu já citei em meu blog, que Deus age no limite. No vídeo, fala-se que o limite de Sara era a esterilidade, o limite de Moisés era o mar, o limite de Jesus era a Cruz. E assim, Deus vai agindo nestas situações limites e levando a pessoa dentro da cena, mas também toda a humanidade para outro patamar de consciência.
Também existe atualmente a teoria muito popular entre os evangélicos e os católicos carismáticos que é o livramento. Uma frase recorrente entre essas pessoas é que não sabemos quantos livramentos temos durante um dia da nossa vida.
Esse conceito popular nos dias atuais me parece interessante, porque leva a refletir sobre as limitações da nossa própria consciência. Independente do fato de acreditarmos em Deus ou não, o fato é que nossa capacidade de perceber e apreender a realidade é pequena. Entender e aceitar essa pequenez é extremamente desafiante para a consciência humana.
5- Social:
COMPLEMENTARIEDADE
Muitas vezes não conseguimos ver um carro em alta velocidade vindo em nossa direção, e, se não somos avisados, seremos atropelados. Nossa visão é limitada, precisamos dos(as) outros(as) para nos ajudar a ver o contexto todo e nos avisar do perigo.
Todos os "causos" contados aqui ocorrem socialmente. Não existe história sem grupos, sem comunidade. Me arriscaria a dizer que não existem nem mesmo estórias, frutos da imaginação humana, sem a força do social em nós. Histórias e estórias são feitas do encontro do ser humano com o outro e com a natureza.
6- Político/Ideológico:
Mas o que tudo isso tem a ver com política, luta pela democracia e combate ao pensamento nazista?
Uma das coisas que tem me deixado muito angustiada é o tempo de resposta aos desafios simbólicos/ideológicos da sociedade atual.
7- O tempo de resposta:
O tempo de resposta não condiz com a URGÊNCIA dos acontecimentos e produção de conteúdos.
O tempo do movimento rápido, da pulsão, do gesto que protege e salva vidas perde-se nas agendas lentas e raciocínios lógicos.
Enquanto a classe trabalhadora enfrenta no seu dia a dia, minuto a minuto, mensagem a mensagem, olhar a olhar, palavra a palavra, situações desafiadoras como assédio no trabalho, violência física na comunidade, marca-se treinamentos para daqui três meses.
Existe uma grande dificuldade de CONCILIAR as exigências do tempo presente, do aqui e agora, com o tempo de elaboração do pensamento racional e da construção de conhecimento sistematizado.
Assim, enquanto a classe trabalhadora, na emergência dos fatos, se pergunta como "fazer a bala parar" - caso de Espírito Santo - e reza em seus mais diversos credos, pedindo proteção divina para ação concreta de enfrentamento da VIOLÊNCIA estruturada, organizada e orquestrada por grupos específicos, o outro lado pede-se calma e organiza encontros para o ano que virá.
8- Quando a necessidade se sobrepõe ao medo:
Recentemente, em conversa com uma mãe da classe trabalhadora, evangélica, com um filho e uma filha estudando em escola pública, sobre a possibilidade de ataques em escolas, ela me responde com uma estranha tranquilidade;
“Mandei meus filhos para escola sim. Eles precisam estudar e eu preciso trabalhar. Os orientei a ficarem longe de CONFUSÃO, que se ouvirem barulho correrem para outro lado, se esconderem, deitarem no chão”.
Apesar de estranhar a calma dessa mãe, eu, todos os dias me despeço do meu marido e o abençoou, pedindo a intercessão poderosa de Maria Santíssima e a proteção dos Santos Anjos, para ir ao trabalho como Diretor de Escola Pública, na esperança concreta que minha benção o proteja e lhe dê o poder místico de "fazer a bala parar".
9- Intelectuais
É essa força, essa pulsão para enfrentar a outra face da vida que é a morte, que somente as classes populares têm, que falta a muitos intelectuais.
Estou convencida que, para sairmos VITORIOSOS(AS) desse caos ideológico em que o poder dominante nos jogou, será preciso desenvolver a capacidade de fazer mundos opostos se encontrarem, embrenharem-se por novas realidades físicas e simbólicas em um ritmo estonteante de acelerado. Pois, somente assim, construiremos o novo que seja capaz de vencer os INIMIGOS.
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