1- UMA REPRESENTAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS
Uma vez, eu fui em um evento, convidada pelo fórum de Direitos Humanos de Campinas. Ao chegar no evento, compreendi que o objetivo do encontro era refletir sobre a Violência praticada contra os homossexuais em nossa sociedade, com o objetivo final de construir a letra e depois a melodia de uma música.
Para chegar a essa produção passamos por um processo de psicodrama, onde fomos encenando as situações de VIOLÊNCIAS que os homossexuais vivem em nossa sociedade. Em meio a encenação, enquanto a terapeuta desfiava o grupo para apresentar soluções e encaminhamentos para uma cena de VIOLÊNCIA, alguém disse que ia chamar a polícia e então chegou a minha vez de dizer o que eu sentia/pensava diante daquela cena e veio a única frase que parecia fazer sentido para mim naquele momento:
“NÃO VAI DAR TEMPO.”
O interessante da cena, é que a vítima da VIOLÊNCIA na cena era homossexual na vida real, e, no momento em que a realidade se mistura em nossas representações simbólicas, pude ver o olhar cortante dele em direção a mim, sem conseguir esconder o desespero de uma vida constantemente ameaçada.
A emergência da cena sobrepunha ao desespero da realidade, manifestando a certeza emergencial: NÃO VAI DAR TEMPO.
2- QUANDO NOSSOS ERROS NOS SALVAM
Estava parada no sinal vermelho. Quando dei partida deixei o carro morrer. Mas, antes mesmo de conseguir xingar a mim mesma pela falha, vem um carro a toda velocidade e atravessa no sinal vermelho. Neste caso o meu erro me salvou.
3- PERCEPÇÃO INTUITIVA
Quando trabalhei como educadora, um aspecto da minha percepção se manifestou de forma que chegou a ser engraçada. Vou chamar de PERCEPÇÃO INTUITIVA. Como havia muito trabalho, não era possível realizar um acompanhamento rígido dos adolescentes. Além disso, uma das propostas do Programa que eu trabalhava era desenvolver o senso de responsabilidade, pertencimento e liberdade. Então, muitas vezes eu revezava em várias coordenações e outras, tirava algum tempo para preencher relatórios. Mas, enquanto eu me desgastava em uma atividade e outra, de repente, sem mais nem menos eu parava e pensava: onde está tal grupo, tal pessoa? E saia andando, distraidamente pela escola, procurando-os. E não "dava outra"! Eles estavam fazendo algo errado, como pichar o muro da escola. Outras vezes era algo muito mais grave como ameaçar um colega, desrespeitar uma garota. E apesar da tensão, era "muito legal" chegar no EXATO MOMENTO dos acontecimentos. Isso ocorreu tantas vezes, que um adolescente chegou a me perguntar como eu conseguia saber que estava acontecendo algo, para chegar no MOMENTO CERTO. Eu apenas sorri e disse que era segredo.
4- Ia da casa dos meus pais para o meu trabalho, naquelas peruas que faziam o transporte público no ano de ….. em um determinado momento do trajeto, um ônibus circular bateu na traseira da perua. O motorista tentou controlar o veículo, mas o pneu bateu no meio fio e a perua "voou" pelos ares. Eu, que estava meio sonolenta no banco, "me vi no ar" dentro da perua - me perguntei mentalmente o que estava acontecendo, concluí que estava em um acidente muito sério e pensei:”MEU DEUS, AGORA EU ESTOU NAS SUAS MÃOS!”
O pensamento terminou exatamente no segundo em que a perua bateu no chão e meu quadril se chocou com o ferro que se sobrepõe ao banco, onde as pessoas seguram. Alguns centímetros para cima, eu teria batido a minha coluna e provavelmente teria sérios problemas.
Uma fração de segundos - uma fração de centímetros - muitas vezes é o que salva uma vida.
Me pergunto, se a fala libertadora do pensamento nazista, também precisa estar nesta fração de segundos e centímetros, cortando a lógica dos acontecimentos nefastos e dos raciocínios desprovidos de razão.
Vivemos tempos de vida ou morte. Cada segundo importa.
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