segunda-feira, 15 de agosto de 2022

AGOSTO LILÁS - MÊS DE COMBATE A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES

 POR QUE NÃO NOS OUVEM?

 

No século passado e ainda por um bom período neste século, eu ouvia constantemente, entre as minhas amigas(os) evangélicas(os): - “DEUS FALOU COMIGO”.

Lembro-me que essa frase me incomodava muito e um dia comentei isso com a minha professora de yoga e obtive uma resposta que me encantou:

- “Como você pode saber se é Deus ou não falando com você?”

Se é o espírito da vida, suas emoções verdadeiras, seu pulsar da vida querendo te levar para algum lugar além do lugar comum que estás vivendo hoje?

Você ouvirá a mensagem nos contextos mais diferenciados possíveis, em momentos e por pessoas que você nunca imaginou que estaria falando do assunto.

Não sei se esse conceito ainda vale para a época da internet, com os algoritmos tomando conta de tudo, mas ainda acredito que é um princípio que posso usá-lo a partir das relações sociais diversificadas que participo, com a devida parcimônia, cuidados reflexivos, consultas a pessoas mais sábias, para estruturar reflexões sobre alguns conceitos polêmicos e tentar chegar a uma síntese e seguir adiante.

Assim, quando em Março nos eventos em comemoração ao 08 de Março, ouvi a pergunta: “ POR QUE ELES NÃO NOS OUVEM?” de um Padre Católico de esquerda com voto de pobreza e uma mulher de classe média, culta e de direita, que não se conhecem, nunca nem ouviram falar um do outro, entendi que aí estava um caminho que a reflexão deveria seguir, buscando construir novas ideias e novas possibilidades de ação.

Na fala dessas pessoas, havia uma certa desolação, um cansaço de quem tem feito a luta para colaborar na construção de relações mais saudáveis em nossa sociedade, estruturada em princípios justos e coerentes.

Logo depois da pergunta, “POR QUE NÃO NOS OUVEM”, eles continuam o discurso:

NÓS FALAMOS, EXPLICAMOS, MAS AS PESSOAS NÃO ENTENDEM, ELAS NÃO NOS OUVEM”.

O que eu achei muito interessante foi pessoas de contextos ideológicos totalmente diferentes, apresentarem um discurso quase igual, sobre o mesmo tema. Fica-me a crença de que tal discurso foi "organizado pela mística do universo" e se manifestou na estrutura concreta da ação dessas pessoas.

Como alguém que tem como princípio para a resolução de qualquer problema assumir a responsabilidade total sobre o mesmo, minha primeira resposta reflexiva para a pergunta foi:

PORQUE NÃO ESTAMOS FALAMOS DIREITO”:

- com a linguagem que o outro - feminino ou masculino - nos entenda.

- com a intensidade de vezes que é necessária para se mudar um comportamento

- com as verdades históricas da realidade da mulher na sociedade.

- com estilos de linguagem diversificado, que diversos grupos sociais entendam

- com sínteses culturais que possibilitem as mudanças nos diversos contextos sociais que existem no Brasil.

Mas eu não estava satisfeita com a resposta, então a pergunta ecoou em minha alma de forma espontânea por quatro meses e nesse esforço contínuo de produzir sínteses a partir da experiência vivida encontrei mais uma resposta em final de Julho deste ano ao escrever o texto AVÓS - O ENCANTAMENTO É VIGIAR publicado em 01/08/2022 neste blog:

Precisamos também reaprender a falar ao “pé do ouvido” - com ênfase no TAMBÉM - tal qual a minha avó naquele final de tarde, em um quarto dos fundos, investigando discretamente a realidade concreta daquela que era cria de seu filho primogênito. Confirmar carinhosamente se a estrada histórica percorrida nos levou a construção de novos padrões de relações afetivas ou a ilusões mescladas com o sangue e o desespero de mulheres violentadas.

Resgatando a sabedoria do MATRIARCADO silenciado em nossa sociedade, e que por isso se especializou em construir sussurros quase silenciosos, formados de olhares sensíveis e lágrimas. Construindo estruturas de comunicação sutis para que estes sussurros silenciosos se casem misteriosamente com os gritos de nossas irmãs feministas que tem coragem e condições de gritar nas ruas, praças e internet a denúncia daquelas que não tem voz.

Chamo isso de:
CULTURA DA COMPLEMENTARIEDADE.

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