quarta-feira, 13 de abril de 2022

ESPIRITUALIDADE, PENSAMENTO POSITIVO, AÇÃO DE GRAÇAS E SINCERIDADE

 Uma frase Jesuíta:

“TOMAI, SENHOR, E RECEBEI TODA A MINHA MEMÓRIA”

Santo Inácio de Loyola


Hoje quero refletir sobre um aspecto desafiante da nossa memória. Nós, humanas e humanos limitados, temos em nossa memória uma característica peculiar - lembramos mais e com mais facilidade daquilo que nos faz mal, que nos angustia. Já ouvi isso inclusive de um médico. Ele disse que não se sabe exatamente porque lembramos mais do que é negativo, mas, acredita-se que pode ser fisiológico, pois uma das principais formas de aprendizado é a dor, assim nosso cérebro que anseia pelo aprendizado, é programado para lembrar da dor, "processá-la" com o objetivo de aprender a lição daquele momento.

Assim como a criança nunca vai esquecer a dor que sentiu quando levou choque ao colocar a mão na tomada, nós seguimos pela vida meditando espontaneamente naquilo que nos angustiou, nos trouxe frustração, ansiedade e aflições.

Neste sentido, se lembrarmos dos "percalços" que a vida nos trouxe e olharmos para eles da perspectiva do aprendizado e desenvolvimento interior e espiritual, tudo bem. Mas se não conseguirmos fazer isso, podemos ficar presos em uma "teia" de angústia e lamúria que nos impede de seguir em frente.

A memória de acontecimentos negativos muitas vezes nos impede de ver os acontecimentos bons no meio do caos. Possui o poder de nos "cegar" para os aspectos positivos do processo, desvaloriza nossas conquistas, nega o apoio que recebemos ao longo de nossa história.

Trabalho atendendo o público. Descobri que posso atender 100 pessoas que me tratam bem, se uma me maltratar é desta que vou me lembrar, é sobre esse acontecimento que vou comentar. O negativo nos marca profundamente.

Me lembro que em um dia de muito movimento, um dos funcionários sob minha responsabilidade deu uma senha errada, encaminhando o cliente para a fila preferencial sem este ser preferencial. O colega do outro setor se recusou a atender o cliente com senha errada, gerando reclamações. E houve o maior "buchicho" no local de trabalho. No final do dia, o funcionário que havia errado estava triste e veio me falar, dizendo que a gerência iria falar comigo, pois ele havia fornecido uma senha errada. Eu olhei pra ele com todo o meu cansaço do dia intenso de trabalho e lhe disse:

“Você deu UMA SENHA ERRADA? E QUANTAS SENHAS CORRETAS VOCÊ FORNECEU?”

O funcionário sorriu e me disse: “NÃO SEI. “

Na Liturgia Eucarística Católica se fala uma frase todas as vezes que é realizada:

É JUSTO E NECESSÁRIO DARMOS GRAÇAS, SEMPRE E EM TODO LUGAR.”

Quando tomei consciência dessa frase fiquei me perguntando porque era justo e necessário darmos graças. De onde vem essa máxima? Do ponto de vista litúrgico e bibliográfico não sei. Não sei exatamente quais são as referências do autor. Mas me coloquei a intuir se essa necessidade de darmos graças estaria relacionada, pelo menos intuitivamente, ao fato que nossa mente "esquece" com facilidade o que nos aconteceu de bom, belo e encantador. Muitas vezes esquecemos o que NÓS FIZEMOS DE BOM. E muitas vezes, o nosso círculo social não ajuda muito para a nossa percepção das nossas capacidades e habilidades.

À partir dessa reflexão comecei a fazer exercícios conscientes de Ação de Graças, me lembrando e anotando em um caderno no final do dia todas as coisas boas que me aconteceram. Meu propósito é escrever 10 acontecimentos bons por dia, mas quando começo a escrever percebo que os acontecimentos bons foram muitos.

Os acontecimentos bons não neutralizam ou solucionam os desafios que a vida nos oferece, estes continuam existindo. O que o direcionamento da reflexão para a existência de eventos positivos nos possibilita é ampliar a mente para a dualidade dos acontecimentos diários e assim sermos JUSTOS para com as pessoas e para com a vida que nos trouxe coisas boas.

Talvez um dos grandes desafios do desenvolvimento humano seja ser capaz de conviver com a dualidade - bom e mal, certo e errado, bonito e feio.

Termino o texto de hoje citando a Bíblia Sagrada: - “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lamentações 3:21), porque o que me desespera vem à minha mente naturalmente, mesmo quando eu não quero.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

TRANSFORMANDO FRAGILIDADE EM FORÇA

Transformando desequilíbrio em equilíbrio. Um brilho do sol refletido no espelho insiste em incomodar, direcionando o fechar dos olhos para ...