Durante anos debati com o antagonismo existente entre pensamento positivo e realidade.
Minha geração viveu o ápice dos livros de autoajuda, que falam da importância do pensamento positivo como instrumento para mudar a vida, mudar a realidade.
Mesmo tendo formação católica, e talvez exatamente por isso, tive acesso a outras teorias como Seicho-no-iê, livros espiritualistas e espíritas, yoga e outros.
Tudo isso "junto e misturado" com a faculdade de psicologia, onde lia grandes nomes como Freud, Vygotsky, Piaget, Descartes, Marx, Skinner e, nas "horas vagas", praticava capoeira.
A diversidade sempre me acompanhou. Nós, católicos, temos muita liberdade e isso nos garante "voar" para muitos outros espaços simbólicos - eu considero isso bom, apesar de certa forma ser "perigoso".
Eu diria que durante anos, deixei conceitos antagônicos "passearem" pela minha mente sem grandes preocupações, reflexões e aprofundamentos. Assim convivi por anos com teorias que orientavam o pensamento positivo, enquanto refletia com amigas(os) a situação política do país, as necessidades de mudança e chorava pelas limitações que minha realidade financeira me impunha.
Recentemente, com a internet, esse antagonismo alcançou dimensões inaceitáveis, pois são muitas as mensagens diárias que recebo orientando que devemos ser felizes, alegres, positivos, esperançosos, fervorosos e gratos para que no "final" tudo dê certo, em contrapartida as mensagens que relatam a realidade política caótica do país no enfrentamento da pandemia e todo stress advindo dela, assim como outros problemas tão graves quanto, como os ataques ao SUS, a democracia e outros.
Então percebi que era a hora de fazer algumas sínteses para harmonizar a minha fé e sentimento de esperança com a realidade do meu país e as minhas lutas cotidianas práticas e espirituais.
Esse excesso de mensagens em perspectivas diferentes e a necessidade interior de me posicionar sobre elas com o objetivo de construir relações online estruturadas a partir de um processo reflexivo, com um propósito de crescimento espiritual e intelectual, evoluindo para uma ação social e política que garanta direitos que preservem a vida da classe trabalhadora, foi desafiando-me intelectualmente o que me levou a algumas reflexões:
- pensamento positivo realmente funciona, isto é, consegue mudar uma realidade?
se funciona, possui o mesmo nível de eficiência na esfera individual e social/política?
- se eu tiver o pensamento positivo que a luta por moradia digna para todos se concretizará no nosso país, isso realmente acontecerá?
- as pessoas que propõem a vivência de uma atitude positiva e grata pela internet, realmente o fazem na vida real?
se o faz, é em toda situação, inclusive em situação de stress?
- a proposta, enviada por muitos cristãos, que você tenha fé, significa fé em que? Em Cristo, nos Evangelhos ou que tudo vai dar certo?
a fé que tudo vai dar certo, no sucesso, é a mesma fé em Jesus Cristo? É a mesma fé do Evangelho?
- pensamento positivo individual não é o mesmo que egoísmo? Faz sentido alegrar-se por tudo dar certo para mim, enquanto o outro – que pertence a mesma raça que eu – está vivendo sem o mínimo necessário para a sua dignidade humana?
São essas perguntas e outras que tentarei responder nos próximos textos.
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