segunda-feira, 14 de março de 2022

O TEMPO DO LUTO


 https://www.youtube.com/watch?v=uCFOdibGa-c

Quando se perde alguém

https://www.paulus.com.br/biblia-pastoral/_PKX.HTM

1 Debaixo do céu há momento para tudo, e tempo certo para cada coisa:

2 Tempo para nascer e tempo para morrer.

4 Tempo para chorar e tempo para rir. Tempo para gemer e tempo para dançar.

5 Tempo para abraçar e tempo para se separar.



A vida nos trás muitas experiências. Dessas experiências, a mais forte dela está no seu oposto - A MORTE.

A sociedade atual, com o tempo corrido, com a pressa da alegria fútil, nos estabelece que o luto tem tempo, e passado aquele tempo do choque e da tristeza profunda, se permanecermos ali, estamos indo contra as regras do bem viver, do pensamento saudável, do equilíbrio psicológico.

Nossa sociedade impõe a pressa - a morte nos convida à lentidão do sentir em câmara lenta o sentido da vida - o sentido do que se perdeu, do que se construiu, do que ficará e do que partirá para sempre em nós.

Na minha experiência de perda, descobri algo que nunca li nos livros - o fato é que depois de ter perdido alguém que amei muito, nunca mais fui a mesma pessoa. Ocorreu uma transformação espontânea, que também provoca uma sensação de agressão interior, pois me tirou do lugar social/simbólico de filha e me "jogou" no vazio existencial do NÃO SER - NÃO PERTENCER.

E enquanto chorava a dor dilacerante da perda, uma voz me perguntava silenciosamente:

E agora como vai ser? Onde vai no domingo à noite? Como conciliar as Festas de Fim de Ano se já não temos mais o que conciliar?

Dizer que aos poucos as coisas se ajeitam é uma verdade com um certo "gosto de crueldade". As coisas se ajeitam, porque no limite da dor, quando não se tem pra onde ir, o espírito se acomoda como pode, como consegue e não há nada de racional nisso, não há nada de heróico neste gesto - é apenas uma profunda falta de opção.

Se durante o período do casamento, dizemos que é o MOMENTO DA NOIVA, o luto deveria ser o MOMENTO DE QUEM VIVEU A PERDA.

Noivas possuem ritmos diferentes, vivenciam seus períodos de casamento cada qual do seu jeito, no seu estilo, com suas emoções e alegrias - assim também deveria ser o tempo do LUTO - cada qual no seu ritmo, no seu tempo.

Aceitar o processo do luto é aceitar as transformações que vierem na alma em virtude da experiência. Não é possível escrever um prazo a isso, um tempo pré estabelecido pela ciência ou pela cultura. O máximo que os mecanismos de orientação social podem nos oferecer é no momento certo sugerir caminhos, direcionar algumas ações e ficar por perto para ajudar a suportar a quebra dos "cacos" quando tudo se desmoronar.

O tempo do luto é o tempo da espera às avessas. E aqui temos um paradoxo: se acolhemos sem o condicionante do tempo a dor se esvai mais suavemente. 


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