O LIMIAR DAS EMOÇÕES
O NOVO TEMPO QUE NÃO COMEÇOU
APENAS DISFARÇOU-SE A DOR
No limiar das emoções da perda irreparável, surge o momento em que é preciso voltar para as atividades cotidianas. A sociedade está organizada dentro de regras e o espírito precisa se impor adaptações para garantir a sobrevivência do corpo físico.
Racionalmente se pergunta quanto tempo é adequado mergulhar na dor. Nem mesmo a psicologia possui uma definição clara sobre isso. Há teorias distintas para o mesmo fenômeno. Se por um lado o “mergulho” completo na dor pode ser perigoso, pois quanto mais fundo mais difícil de voltar, a superficialidade da vivência emocional pode estrangular a alma e nos desconectar de nossas verdades emocionais.
Fala-se racionalmente em equilíbrio....
Essa palavra soa irônica aos ouvidos de quem perdeu quem amou.
Mas é preciso voltar. Voltar ao trabalho, voltar às relações sociais, voltar às atividades esportivas, voltar à igreja. Reencontrar o passado no presente e se atualizar emocionalmente a partir do movimento.
É o verbo no imperativo chamando pra vida....
Recompondo movimentos abandonados ao desleixo, nos cantos da tristeza.
E assim me arrastei para o movimento do trabalho, encontrando nas distrações diárias um estranho motivo para continuar.
Me lembro de uma amiga de trabalho me perguntando se eu estava bem, e da minha resposta:
“NÃO ESTOU BEM, MAS ESTOU CONSEGUINDO DISFARÇAR.”
Em seguida me comprometi com ela que lhe contaria em “primeira mão” caso perdesse a capacidade de fazê-lo. Seus olhos me envolveram em um misto de tristeza e acolhimento.
ACORDOS SILENCIOSOS como estes foram essenciais durante o processo intenso de luto.
A presença serena de um olhar amigo, que vigia discretamente nossa dor por nós, PODE SER o "fio" condutor de nossas esperanças para um futuro, que sabemos, será repleto de saudades. A humanização do processo de luto pode estar relacionado com a capacidade de vigília sensível da dor do outro - da empatia - da capacidade de colocar-se no ritmo do outro, no ritmo da dor, no ritmo do sofrimento do outro.
Mas no limiar da dor emocional o fato é que NÃO HÁ CERTEZAS, e o que funcionou para uma pessoa não funcionará para outras. Cada indivíduo, cada grupo social, viverá o seu processo de luto de forma genuína e específica, absorvendo dele o que há de mais intenso, ou não.
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