SOBRE EMPATIA, CAMINHADA, ESPERA, CAVALGADA, SACRIFÍCIO.
EMPATIA É ANDAR NO RITMO DO OUTRO
A melhor metáfora da empatia é a CAMINHADA. Dizem que empatia é andar no ritmo do outro.
O jeito de caminhar do meu marido é interessante, pois é naturalmente rápido. Quando o olhamos caminhar temos a impressão de que ele está andando devagar, mas quando tentamos acompanhar, é simplesmente impossível.
Eu, que também sou "naturalmente empática", sempre busquei um ritmo mais rápido e, como gosto de esportes, em especial uma caminhada, ao conhecê-lo não tive dúvida, me propus a caminhar no ritmo dele.
Como pratiquei corrida e caminhada, depois de anos de treino, consegui alcançar um bom ritmo para acompanhá-lo. Mesmo ele se propondo a CAMINHAR NO MEU RITMO achei importante eu fazer isso.
O único momento em que essa "HARMONIA DOS PASSOS" é quebrada, é quando eu coloco salto alto. Aí, eu simplesmente não consigo acompanhá-lo e, algumas vezes tenho de lembrá-lo suavemente - “estou de salto alto, não consigo andar no seu ritmo”. Então ele diminui os passos para caminhar ao meu lado.
Pois bem, vivemos isso durante anos, sem que representasse um conflito para nós e sem maiores reflexões sobre o assunto. Era natural para ambos que o ritmo dos nossos passos se alternasse conforme o contexto e as necessidades de cada um.
Até que um dia, eu já sendo possuidora de um ritmo de caminhada bem razoável, ao conhecer uma nova amiga no local de trabalho, vivi uma experiência esclarecedora no que se refere à empatia, caminhada e sacrifício.
Essa amiga é uma pessoa maravilhosa, mas possui uma característica específica que vai mexer com as minhas entranhas - ELA ANDA DEVAGAR, MUITO DEVAGAR. E não é só isso, ela acredita na mística do passo lento e pára no meio da caminhada para refletir mais a fundo o tema da conversa.
E não é só isso, ao chegar para atravessar a rua, muitas vezes, se o sinal está verde, ainda assim ela pára e espera. Quando perguntei porque, ela me explicou que tinha observado que o sinal já estava verde a algum tempo e que fecharia a qualquer momento. Tentei argumentar que o semáforo possui uma tolerância e que quando o sinal fecha ainda temos um tempo razoável para atravessar a rua. Aliás, se coloca a mãozinha piscando no semáforo, indicando que o tempo está acabando. Acho que ela nem me ouviu. Para ela parecia totalmente uma falta de senso começar a atravessar uma rua, sabendo que no meio da travessia, teria de "aumentar o passo", correr às pressas.
Para ela é muito mais sábio parar e esperar o sinal fechar e depois esperar o tempo do sinal fechado, e só então atravessar a rua quando o sinal abrisse de novo.
E lá me vi, eu, depois de anos de treino para caminhar rápido, "acertando o passo" da caminhada com aquele que amo, desafiada em meu ritmo biológico a parar, diminuir o passo, ensaiar no tempo interior uma calmaria que me escapava os sentidos e a toda a fisiologia do meu corpo.
Dessa experiência eu tirei sete lições:
1- As pessoas possuem necessidades diferentes e essas diferenças podem estrangular a alma dos seus companheiros de jornada, desafiando a nossa capacidade empática em direções opostas.
2- É um grande sacrifício para uma pessoa de ritmo rápido se adaptar ao ritmo de alguém lento.
3- Eu, que me sentia uma expert na prática da empatia, nunca tinha sequer imaginado o SACRIFÍCIO que foi para o meu marido andar no meu ritmo tão mais lento que o dele.
4- Não percebendo o sacrifício eu nunca agradeci.
5- EMPATIA É SACRIFÍCIO.
6- Todo o treinamento que se faz para viver plenamente a empatia em relação a uma pessoa pode simplesmente ser a característica que te impede, ou pelo menos dificulta, ser empático em relação a outra.
7- Empatia é um dom maravilhoso, mas muito provavelmente está no mesmo campo das GRANDES UTOPIAS.
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