"O problema é que a sociedade
não é preto no branco, não é Deus e Diabo, Bem e Mal, tão somente. A sociedade
é uma grande massa cinzenta e gelatinosa...não existe padrão no limbo, no
umbral da sociedade"- Vinicius de Carvalho - https://construirresistencia.com.br/padre-lino-e-a-ossada-das-criancas-de-belford-roxo/
A frase acima, na minha
interpretação, define bem a realidade do Brasil, mas diria que expressa também
a disparidade conceitual - não sei exatamente que palavras usar para definir
isso - entre intelectualidade e a realidade das periferias existenciais no
Brasil.
Aprender a entrar nesse
"umbral", na zona cinzenta, no limbo, e produzir conhecimento a
partir dele, é um grande desafio. É preciso se adentrar neste LIMBO pra
descobrir que ali além do CINZA, pode existir outras cores desse grande arco
íris que é a vida, pode existir e sem dúvida existe o VERMELHO dos sangues
derramados na calada da noite ou em plena luz do dia. Pode existir o VERDE da
esperança de que frutos maduram, se tornam AMARELOS e quando colhidos no tempo
certo nos nutre e fortalece pra luta cotidiana por justiça contra a barbárie, o
machismo e o fascismo.
Pode-se descobrir também a
indignação silenciosa, seja por por medo ou indiferença.
Não sei. É o diverso. O que se
apresenta e o que se esconde...
Como saber?
O fato é que não sabemos. Para
saber é preciso ter a CORAGEM de se adentrar no LIMBO das periferias, como nos
pede o Papa Francisco.
E se não tivermos a CORAGEM de
entrarmos no LIMBO, desenvolver a HUMILDADE pra reconhecer que não sabemos, ou
que o que sabemos pode não ABARCAR aquela realidade que se apresenta a nós.
Outra confusão comum é pensarmos
que todo LIMBO, TODO UMBRAL É IGUAL e que se conhecemos um conhecemos todos. A
verdade é que cada UMBRAL possui a sua cor, e muitas vezes o cinza da aparência
das casas esconde o BRILHO DE TALENTOS maravilhosos que transcende a nossa
compreensão do que é possível.
Também encontramos ali espaços para
ILUSÕES que possuem sua própria mística e sua própria beleza. Porque a
possibilidade de uma alma sonhar em condições tão adversas é por si só uma
dádiva, um milagre.
Quem tiver a coragem de se adentrar
no limbo da sociedade encontrará ali a sua própria CORAGEM, compreenderá que as
regras são outras, desenvolverá uma capacidade de MOVIMENTO SUTIL diante da
dor, que se adquire ao superar seus medos e ter gestos emocionais intensos
diante da vida.
Aprender a viver e sobreviver no
LIMBO da realidade que se impõe às nossas teorias é o desafio daqueles que
lutam por justiça social neste país.
Entrar no limbo é entrar em um
local perigoso. Apenas poucos têm coragem de o fazer. Dos que entram poucos
saem vivos. Estou falando aqui da morte real e/ou da morte simbólica - o limbo
desafia nossa capacidade mental, espiritual e emocional. É quase impossível
entrar no limbo e sair vivo sozinho. Porque ter a coragem de encontrar a
realidade em sua totalidade só é possível com o apoio de outros.
Associo essas palavras com Reino do
Céu - a porta estreita - e sem medo de qualquer pecado teológico, cito Padre
Fábio - é no limite que o AMOR PODE NASCER - música CONTRÁRIOS
- https://www.youtube.com/watch?v=lHuDDQE5wNA
Compartilho a colocação do Marcelo
de Carvalho - professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de
São Paulo e participante da Pastoral Operária de Campinas sobre o assunto, na
conversa de whatsapp que gerou esse texto:
Não há tempo nem espaço para
simplificações que distorçam a realidade. Ela é dura. É complexa. Mas não temos
opção fora do seu enfrentamento consciente. Como fazer, eis a questão...
Esse texto foi produzido no dia
03/08/2021 - em um diálogo pelo zap, quando um amigo compartilhou o texto no
link acima.
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