terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

LIMBO, CINZA, UMBRAL


 

"O problema é que a sociedade não é preto no branco, não é Deus e Diabo, Bem e Mal, tão somente. A sociedade é uma grande massa cinzenta e gelatinosa...não existe padrão no limbo, no umbral da sociedade"- Vinicius de Carvalho - https://construirresistencia.com.br/padre-lino-e-a-ossada-das-criancas-de-belford-roxo/

A frase acima, na minha interpretação, define bem a realidade do Brasil, mas diria que expressa também a disparidade conceitual - não sei exatamente que palavras usar para definir isso - entre intelectualidade e a realidade das periferias existenciais no Brasil.

Aprender a entrar nesse "umbral", na zona cinzenta, no limbo, e produzir conhecimento a partir dele, é um grande desafio. É preciso se adentrar neste LIMBO pra descobrir que ali além do CINZA, pode existir outras cores desse grande arco íris que é a vida, pode existir e sem dúvida existe o VERMELHO dos sangues derramados na calada da noite ou em plena luz do dia. Pode existir o VERDE da esperança de que frutos maduram, se tornam AMARELOS e quando colhidos no tempo certo nos nutre e fortalece pra luta cotidiana por justiça contra a barbárie, o machismo e o fascismo.

Pode-se descobrir também a indignação silenciosa, seja por por medo ou indiferença.

Não sei. É o diverso. O que se apresenta e o que se esconde...

Como saber?

O fato é que não sabemos. Para saber é preciso ter a CORAGEM de se adentrar no LIMBO das periferias, como nos pede o Papa Francisco.

E se não tivermos a CORAGEM de entrarmos no LIMBO, desenvolver a HUMILDADE pra reconhecer que não sabemos, ou que o que sabemos pode não ABARCAR aquela realidade que se apresenta a nós.

Outra confusão comum é pensarmos que todo LIMBO, TODO UMBRAL É IGUAL e que se conhecemos um conhecemos todos. A verdade é que cada UMBRAL possui a sua cor, e muitas vezes o cinza da aparência das casas esconde o BRILHO DE TALENTOS maravilhosos que transcende a nossa compreensão do que é possível.

Também encontramos ali espaços para ILUSÕES que possuem sua própria mística e sua própria beleza. Porque a possibilidade de uma alma sonhar em condições tão adversas é por si só uma dádiva, um milagre.

Quem tiver a coragem de se adentrar no limbo da sociedade encontrará ali a sua própria CORAGEM, compreenderá que as regras são outras, desenvolverá uma capacidade de MOVIMENTO SUTIL diante da dor, que se adquire ao superar seus medos e ter gestos emocionais intensos diante da vida.

Aprender a viver e sobreviver no LIMBO da realidade que se impõe às nossas teorias é o desafio daqueles que lutam por justiça social neste país.

Entrar no limbo é entrar em um local perigoso. Apenas poucos têm coragem de o fazer. Dos que entram poucos saem vivos. Estou falando aqui da morte real e/ou da morte simbólica - o limbo desafia nossa capacidade mental, espiritual e emocional. É quase impossível entrar no limbo e sair vivo sozinho. Porque ter a coragem de encontrar a realidade em sua totalidade só é possível com o apoio de outros.

Associo essas palavras com Reino do Céu - a porta estreita - e sem medo de qualquer pecado teológico, cito Padre Fábio - é no limite que o AMOR PODE NASCER - música CONTRÁRIOS

https://www.youtube.com/watch?v=lHuDDQE5wNA

Compartilho a colocação do Marcelo de Carvalho - professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de São Paulo e participante da Pastoral Operária de Campinas sobre o assunto, na conversa de whatsapp que gerou esse texto:

Não há tempo nem espaço para simplificações que distorçam a realidade. Ela é dura. É complexa. Mas não temos opção fora do seu enfrentamento consciente. Como fazer, eis a questão...

 

Esse texto foi produzido no dia 03/08/2021 - em um diálogo pelo zap, quando um amigo compartilhou o texto no link acima.

 

 

 

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