Para falar sobre empatia, acho importante destacar que acredito ter a capacidade de viver intensamente tal fenômeno.
Durante um grande período da minha vida a experenciei sem saber que esse era o seu nome. Eu simplesmente estava a viver a minha vida nas periferias existenciais (Papa Francisco) da cidade, lutando desesperadamente para conciliar aquilo que eu era internamente com as possibilidades que a vida me oferecia, enquanto a dor de outros chegava até mim e se somava assombrosamente a minha.
A despeito de toda explicação científica que temos, considero que ela também é um dom. Algo que nos escapa o controle e extrapola a possibilidade de compreensão.
Eu diria que em mim, empatia é quase um distúrbio. Eu simplesmente, literalmente, sinto a dor do outro. Sempre foi assim, desde muito cedo. Se olho pra uma pessoa e ela está com os olhos cheios de lágrimas, os meus olhos simplesmente se enchem de lágrimas. Isso ultrapassa os limites do bom senso quando se refere a questões físicas.
E vai mais além. Quando eu era adolescente vivi um período de imitação de comportamento. Que fique claro que não tenho qualquer habilidade artística para representação. Então ao dizer que imitava comportamento, não estou querendo dizer que encenava um comportamento, que decidia racionalmente a me comportar como determinada pessoa que eu admirava. Não, não era assim. Eu simplesmente "me via" agindo da mesma forma de uma determinada pessoa que eu admirava e não tinha qualquer controle sobre isso.
Agora analisando a situação, vejo que o ponto positivo disso é que eu não copiava comportamento de pessoas que não admirava e não admirava pessoas que não viviam de acordo com os princípios morais da minha família ou religião. Poderia ter sido pior.
Seja como for, era algo que preocupava minha mãe. Me lembro de algumas falas muito diretas dela: PARA DE FALAR ASSIM, QUEM FALA ASSIM É A ...FULANA.
Minha mãe era uma mulher muito objetiva e firme, e o importante é que as técnicas de educação dela funcionaram. Até onde me consta não vivo por aí roubando identidades.
O que me levou a contar essa história, é que pra mim EMPATIA é uma característica que está muito longe de ser compreendida ou controlada.
Alguns teóricos atuais defendem que a empatia pode ser ensinada e portanto aprendida. Tenho dúvidas sobre isso, uma vez que nunca "precisei aprendê-la". Ela sempre esteve aqui comigo e muitas vezes quase como um incômodo.
Todos que a defendem a descreve como um elemento positivo para as relações humanas. Alguns dizem que pode ser um instrumento muito útil nas práticas corporativas, em vendas, em resolução de conflitos de trabalho. Enfim, para eles trata-se de um instrumento útil para a vitória dentro dos desafios que a sociedade atual - capitalista e competitiva - nos oferece.
Eu particularmente tenho as minhas dúvidas quanto a isso.
De novo, como já expresso em outros textos deste blogger, fica-me a impressão de se tratar de mais um dos discursos maravilhosos que a sociedade contemporânea adotou, sem qualquer fundamento na realidade. Assim como se fala muito de perdão e convívio com o diferente, começou-se a falar de empatia. Porque é bonito e se tornou politicamente correto.
Às vezes penso que quem fala muito desses temas, o faz por nunca os terem praticado, vivido. Quem os pratica, recua para o silêncio de sua alma, nos espaços angustiantes do sacrifício interior, onde tudo pode ser nebuloso, porque as certezas não existem.
Ao carregar comigo a empatia, tal qual uma carga misteriosa, cujo conteúdo não se define muito bem, descobri que muitas vezes ela pesa, outras, traz leveza e encantamento. Esse suspense gera uma ansiedade significativa.
E essa aventura interior e exterior, nesta teia que interliga o indivíduo com suas relações sociais será contada aqui nos próximos textos, bem no estilo mineiro....
Nenhum comentário:
Postar um comentário