Como muitos de vocês, recebo mensagens contra a ciência, contra a vacina da COVID, contra os protocolos de segurança no combate a COVID, enfim contra tudo.
Tudo isso me fez lembrar uma história que vivi com o meu pai em minha infância, no interior de Minas Gerais, no sítio.
Acho que era um pouco antes do almoço, e ele passou em casa para falar com a minha mãe. Eu estava por ali, porque as crianças naquela época, ficavam "por ali", rodeando os pais, enquanto faziam suas brincadeiras, estudava ou realizava pequenos serviços domésticos.
Meu pai estava feliz, foi para casa para contar à minha mãe o que havia acontecido. Havia uma vaca leiteira que estava doente já a alguns dias e vinha piorando significativamente. Já não se levantava.
Mas naquele dia de manhã havia acabado de acontecer um pequeno MILAGRE.
Vivíamos no sítio, não era normal recebermos visitas, e muito menos três visitas no mesmo dia no período da manhã. Naquele dia específico, eu ouvi meu pai contar pra minha mãe:
Acho que a vaca vai se curar, porque logo cedo passou o Senhor....que é benzedor, eu falei da doença, e ele me perguntou se poderia benzer a vaca. Eu permiti. A benzeu e foi embora, seguiu seu caminho.
Logo depois passou o Senhor.... especialista em chás e ervas, e deu o diagnóstico sobre a doença, disse ao meu pai que deveria dar uma determinada erva para o animal que ele sobreviveria. Meu pai assim o fez, e o senhor seguiu o seu caminho.
E por incrível que pareça, alguns minutos depois, chegou na fazenda o veterinário, não era dia dele ir lá, mas estava passando por ali e decidiu dar uma chegada. Viu a condição do animal, fez seu diagnóstico, perguntou pro meu pai se poderia dar uma medicação, meu pai concordou. O veterinário aplicou uma injeção no animal e seguiu seu caminho.
Meu pai contava tudo isso pra minha mãe com um sorriso no rosto. Eu criança, ouvindo a história do meu pai, falei pra ele, com tom de voz sorrateiro:
PAI, MAS ASSIM SE A VACA SE CURAR O SENHOR NÃO VAI SABER O QUE A CUROU!
Ele me respondeu com voz calma e de cumplicidade:
EU NÃO PRECISO SABER O QUE A CUROU, EU PRECISO QUE ELA SE CURE.
Nesta época de pandemia e de internet, recebo muitas mensagens verdadeiras e fundamentadas cientificamente, outras repletas de espiritualidade e esperançosas em uma força maior, outras com sugestões para o fortalecimento da imunidade corporal para que estejamos aptos a combater o vírus caso o peguemos.
Mas recebo também mensagens repletas de equívocos, mentiras e confusão. São essas mensagens que me fizeram lembrar da história que vivi com o meu pai.
O que me angustia é saber que meu pai tinha apenas o terceiro ano do primário, mas em sua sabedoria de vida, sabia que deveria fazer de tudo para que uma vida fosse salva, mesmo sendo a vida de um animal, que representava o lucro da fazenda e consequentemente o sustento de sua família.
Sendo assim ele se abre para os diversos campos do conhecimento que seu contexto social lhe oferece e busca solucionar o problema. Enquanto que nos dias de hoje, pessoas formadas em cursos técnicos e faculdades, se "fecham" para toda e qualquer forma de conhecimento ou sugestão que possa combater o corona vírus, e insiste em um comportamento de morte, levando a sociedade ao caos que esta representa.
No enfrentamento da pandemia do COVID19 é como se fizessem o movimento contrário ao do meu pai no cuidado para com o animal:
- Ao receberem orientações espirituais - fique em casa - porque muitos acontecimentos bíblicos importantes se deram em casa, respondem que a bíblia está ultrapassada e que a religião representa uma ilusão e que em casa as pessoas estão morrendo de depressão e ansiedade.
- Nas orientações sobre o distanciamento social no geral, dizem que a sociedade não pode parar, onde já se viu, isso levaria muitos empresários à falência e consequentemente a fome do povo.
- Sobre as vacinas dizem que são inúteis, que não vão tomar vacinas, que não querem um remédio que não tem eficácia 100% e que se fossem boas não precisaria fazer distanciamento social mesmo tomando vacinas, além de outras teorias da conspiração.
Diante desta situação, meio que desesperados, perguntamos a essas pessoas quais as sugestões elas dão para a superação da pandemia? Quais atitudes irão conciliar em seu cotidiano para a superação da pandemia? E a resposta é sempre uma mistura de fantasias "mirabolantes" que infelizmente já foram praticadas no nosso país e ceifaram a vida de muitos.
E então fico ouvindo uma voz, não a voz "sorrateira" e de cumplicidade do meu pai, marcada pela esperança que as nossas atitudes de respeito e aceitação diante dos mais diversos conhecimentos que a vida nos apresenta possam nos curar.
Ouço uma voz "macabra" que parece me dizer:
NÃO IMPORTA O QUE VAI TE MATAR, O IMPORTANTE É QUE VOCÊ MORRA.
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