terça-feira, 25 de janeiro de 2022

VIOLÊNCIA X LIBERDADE


 

Sou de uma geração que aprendeu a discutir temas pertinentes à vida muito cedo. Neste sentido foi ainda na adolescência que ouvi de uma professora - O SEU DIREITO À LIBERDADE TERMINA EXATAMENTE ONDE INICIA O DIREITO DO OUTRO.

Nós, adolescentes, fazíamos a nossa adaptação da frase:

NOSSO DIREITO DE DAR UM SOCO NO OUTRO TERMINAVA EXATAMENTE ONDE COMEÇAVA O NARIZ DELE.

E assim íamos vivendo a vida, aprendendo algumas regras básicas de sobrevivência social. Alguns, como eu,  aprendiam a lição apenas com a informação teórica. Outros iam testá-la na prática e se "engalfinhavam" no final da aula, enquanto muitos covardes assistiam e incentivavam a briga.

Quem assistia e incentivava a briga são aqueles que decidiram que na vida seriam plateia do show de horrores da agressividade de outros. Ironicamente estes nunca foram punidos, mas acredito que levaram pra vida apenas a mística medíocre de uma vida de covardia.

Os que brigavam sempre sofriam as consequências - punição escolar - "broncas dos pais" - algumas surras em casa (sou da época em que a violência física era usada normalmente como instrumento de educação) e às vezes até a polícia.

Muitos desses, a maioria homens,  refizeram suas vidas e hoje possuem  histórias de aventuras para contar, outros se tornaram estatísticas, vítimas da violência do estado ou  algozes de sua própria tragédia, eram apenas crianças tentando aprender a viver e não sobreviveram a grande tragédia da violência urbana.

Havia também a "turma do deixa disso",  a qual eu NÃO pertencia.  No auge da minha adolescência e por toda a minha juventude fui adepta da máxima - se eles querem se matar que se matem - "eles que são brancos eles que se entendam".
Nos dias de hoje, com toda formação feminista, eu acrescentaria:
ELES QUE SÃO HOMENS BRANCOS QUE SE ENTENDAM.

Repensei meu posicionamento muitos anos depois ao assistir uma palestra sobre PAZ na sociedade, onde o palestrante disse que precisamos incrementar uma cultura de paz e que uma das formas de fazermos isso seria ESTIMULAR A TURMA DO DEIXA DISSO.

 Me senti profundamente culpada pelos meus anos de combate ao grupo do "deixa disso" e mudei. Me tornei uma apoiadora discreta.

E assim fechei um ciclo reflexivo em minha vida, com a clareza da maturidade que a violência precisa ser combatida e precisamos incrementar meios sociais, legais e individuais para efetivar tal propósito.

Hoje, olho "pasmada" para sociedade e me pergunto de que forma tais ensinamentos e experiência de vida me capacita para enfrentar a violência que aí está, manifestada através de uma titude de total desrespeito a vida frente a uma pandemia que assola e mata.
Nova realidade, novas necessidades, novas reflexões, novos aprendizados - aqueles que sobreviverem aprendam que a LIBERDADE INDIVIDUAL TERMINA EXATAMENTE ONDE COMEÇA A CAPACIDADE DO OUTRO RESPIRAR. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

TRANSFORMANDO FRAGILIDADE EM FORÇA

Transformando desequilíbrio em equilíbrio. Um brilho do sol refletido no espelho insiste em incomodar, direcionando o fechar dos olhos para ...