Sou de uma geração que aprendeu a discutir
temas pertinentes à vida muito cedo. Neste sentido foi ainda na adolescência
que ouvi de uma professora - O SEU DIREITO À LIBERDADE TERMINA EXATAMENTE ONDE
INICIA O DIREITO DO OUTRO.
Nós, adolescentes, fazíamos a nossa adaptação
da frase:
NOSSO DIREITO DE DAR UM SOCO NO OUTRO
TERMINAVA EXATAMENTE ONDE COMEÇAVA O NARIZ DELE.
E assim íamos vivendo a vida, aprendendo
algumas regras básicas de sobrevivência social. Alguns, como eu, aprendiam a lição apenas com a informação
teórica. Outros iam testá-la na prática e se "engalfinhavam" no final
da aula, enquanto muitos covardes assistiam e incentivavam a briga.
Quem assistia e incentivava a briga são
aqueles que decidiram que na vida seriam plateia do show de horrores da
agressividade de outros. Ironicamente estes nunca foram punidos, mas acredito
que levaram pra vida apenas a mística medíocre de uma vida de covardia.
Os que brigavam sempre sofriam as
consequências - punição escolar - "broncas dos pais" - algumas surras
em casa (sou da época em que a violência física era usada normalmente como
instrumento de educação) e às vezes até a polícia.
Muitos desses, a maioria homens, refizeram suas vidas e hoje possuem histórias de aventuras para contar, outros se
tornaram estatísticas, vítimas da violência do estado ou algozes de sua própria tragédia, eram apenas
crianças tentando aprender a viver e não sobreviveram a grande tragédia da
violência urbana.
Havia também a "turma do deixa
disso", a qual eu NÃO
pertencia. No auge da minha adolescência
e por toda a minha juventude fui adepta da máxima - se eles querem se matar que
se matem - "eles que são brancos eles que se entendam".
Nos dias de hoje, com toda formação feminista, eu acrescentaria:
ELES QUE SÃO HOMENS BRANCOS QUE SE ENTENDAM.
Repensei meu posicionamento muitos anos depois
ao assistir uma palestra sobre PAZ na sociedade, onde o palestrante disse que
precisamos incrementar uma cultura de paz e que uma das formas de fazermos isso
seria ESTIMULAR A TURMA DO DEIXA DISSO.
Me
senti profundamente culpada pelos meus anos de combate ao grupo do "deixa
disso" e mudei. Me tornei uma apoiadora discreta.
E assim fechei um ciclo reflexivo em minha
vida, com a clareza da maturidade que a violência precisa ser combatida e
precisamos incrementar meios sociais, legais e individuais para efetivar tal
propósito.
Hoje, olho "pasmada" para sociedade
e me pergunto de que forma tais ensinamentos e experiência de vida me capacita
para enfrentar a violência que aí está, manifestada através de uma titude de
total desrespeito a vida frente a uma pandemia que assola e mata.
Nova realidade, novas necessidades, novas reflexões, novos aprendizados -
aqueles que sobreviverem aprendam que a LIBERDADE INDIVIDUAL TERMINA EXATAMENTE
ONDE COMEÇA A CAPACIDADE DO OUTRO RESPIRAR.
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