segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

NATAL EM OUTUBRO

Experiência vivida em 11/10/2017

É Natal. Uma criança, filho de mãe e pai pobre, nasce em uma manjedoura e se torna o homem mais importante do mundo nos últimos dois mil anos. Estamos no campo do mistério.

Na mística dos encontros de Natal existe um que toca especialmente o meu coração. E não ocorreu em Dezembro, mas em Outubro de 2017 -  O encontro com uma pessoa que morava na rua.

Quando eu residia em Campinas, no caminho para casa passava por um local - uma esquina com semáforo - onde sempre estava uma pessoa que morava na rua pedindo dinheiro.

Eu diria que estabelecemos um vínculo. Não sei se às vezes eu lhe dava algum dinheiro, e não sei exatamente como ocorreu, mas estabelecemos um vínculo.

Esse vínculo estabelecido permitiu que ocorresse uma brincadeira entre nós:

Todos os dias, no cair da tarde, mais ou menos às 18:00h - hora do Angelus conforme a tradição católica  A Oração do Ângelus - Oração das 18:00 horas (mensagensdefeeinspiracao10.blogspot.com) - eu chegava no semáforo, parava para esperar o sinal verde e ele gritava pra mim:

- ME DÁ R$100,00?

- Eu respondia com um sorriso no rosto: AMANHÃ

- Ele me respondia balançando os ombros: A GENTE TENTA

Eu continuava caminhando para a minha casa e ele continuava na sua lida de conseguir o dinheiro para a janta.

No entanto, em 11/12/2017 quando retornei pra casa minha mudança para outra cidade estava programada para o próximo dia. Eu havia sacado dinheiro no caixa eletrônico para pagar o caminhão de mudança, fui andando e cheguei na encruzilhada onde tinha o semáforo e ali estava o meu interlocutor de outro mundo concreto e simbólico cujas dores eu desconhecia.

De novo ele me pede R$100,00 e de novo eu respondo AMANHÃ eu te dou. Ele me responde a frase de sempre, balançando os ombros - a gente tenta - e eu segui meu caminho, atravessando a rua quando o sinal se abriu.

Mas quando eu estava do outro lado da rua me dei conta de uma coisa:
NÃO HAVERÁ AMANHÃ, NÃO PASSAREI MAIS POR AQUI.

Decido voltar, contar-lhe que estava de mudança e que não passaria mais por ali.  

Parece-me que pude ver o MEDO em seus olhos ao me ver voltar.

O chamei carinhosamente e ele veio até mim humildemente, expliquei-lhe que eu estava de mudança, que não passaria mais por ali e tirei R$50,00 da carteira e lhe dei.

Então ocorreu diante dos meus olhos uma das cenas mais estupendas que já vi.

Aquele homem me agradeceu, agradeceu a Deus, saiu correndo e saltitando entre os carros, relatando pra todos que estavam ali o dinheiro que tinha ganho.

Um senhor lhe chama para lhe dar uns trocados, ele agradece, recusa a doação, dizendo que não precisava mais do dinheiro, conta o que aconteceu, e lhe diz - AGORA EU VOU PODER VOLTAR PARA MINHA CASA. Me agradece de novo, sai gritando e dançando pela rua.

Sai gritando e dançando pela rua, em uma cena digna dos Pastores que entoavam cânticos em Belém para homenagear a vida nova que surgia.

E eu?

Eu sigo APRESSADAMENTE meu caminho de mulher da classe trabalhadora, ironicamente chamada de classe média, chego em casa conto para o meu marido o que aconteceu e informo que falta R$50,00 para pagar o caminhão da mudança, uma vez que o dinheiro que reservei para isso eu havia deixado pra alguém na encruzilhada da vida.

https://www.youtube.com/watch?v=WFoez21EK9g
Inspirado na música NATAL TODO DIA do Grupo Roupa Nova.

Quando compartilhei essa história para minha amiga ateia, racional, desprovida de qualquer mística espiritual, ela me disse - a caridade nem foi sua de verdade, quem pagou a conta no final de tudo foi o MARIDO.

Acho que no Natal de 11 de Outubro de 2017 inaugurei a mística do Natal antecipado e a caridade familiar inconsciente. Rss...

 

 

 

 

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