No dia 24/12/2021 fui visitar a casa que foi dos meus pais e agora se tornou herança.
Uma emoção especial me chamou atenção. Havia em uma caixa de papel algumas coisas da minha mãe. Olhei a caixa procurando fotos. Encontrei poucas. Sou de uma geração onde as fotos eram muito caras e portanto temos muito poucas. Encontrei livros de oração e UMA CARTA DA MINHA AVÓ PARA MINHA MÃE, datada de 15/03/1984.
Minha avó - DONA INAIVA PEREIRA DE CARVALHO - conhecida como Dona Biluca.
E as lembranças da minha avó vieram como um bálsamo de emoção para ressignificar o tempo e a esperança que sempre me moveu.
Ela era uma mulher peculiar. Falava pouco, andar calmo, solícita, não saia de casa. Seu mundo era sua casa.
Meu pai descrevia minha avó Biluca da seguinte forma:
- as vezes eu chegava na casa da dona Biluca tarde da noite. Ela me perguntava como eu estava, se a Nilza e as crianças estavam bem e se eu queria jantar. Se eu respondesse sim ela iria até a cozinha preparar o alimento e me chamava pra comer. E pronto.
Dona Biluca tinha uma prontidão para ajudar, para atender as necessidades das pessoas, que a tornava uma pessoa encantada. Com dona Biluca, havia sempre um encaminhamento prático para a solução dos problemas apresentados.
Minha mãe contava que quando eles eram crianças um primo do meu avô pegou tuberculose e não conseguia curar-se. Como a doença é contagiosa, ninguém queria tomar conta dele. Minha avó o levou para casa, o colocou no quarto dos fundos, proibiu as crianças de chegarem muito perto, separou o seu garfo e prato e cuidou dele até se curar.
Acho que é esse tipo de amor que transborda em ação que nos falta hoje. Ao transbordar, o amor cura as feridas, supri carências espontaneamente e às vezes faz milagres, como na história do primo que se curou de tuberculose em "mil novecentos e trinta e poucos", no interior de Minas Gerais, com os parcos recursos daquela época.
Não me lembro de cenas de ciúmes entre os netos por causa da minha avó. Desconfio que o amor dela era tanto, que todos(as) os netos(as) tinham certeza de que eram amados(as). Tínhamos a certeza de que pertencíamos aquele espaço simbólico de afetos.
Outra lembrança forte é:
Após o almoço de domingo, quando toda a família estava reunida, a sobremesa era sempre goiabada daquelas compradas em lata. O mais interessante era que minha avó pegava a faca, cortava um pedaço de goiabada para cada pessoa presente e nunca faltava pra ninguém e todos e todas sempre ficavam satisfeitos(as). Hoje penso que minha avó fazia a multiplicação da goiabada.
Literalmente ela tinha a faca e a goiabada na mão, e partia, repartia e partilhava, de tal forma que todos comiam e todos ficavam saciados. Estranho o fato de que nunca havia queijo na casa da minha avó. Sendo uma casa de Minas Gerais rss.
Meu desejo para 2022?
SEMPRE QUE EU TIVER A FACA, O QUEIJO E A GOIABADA NA MÃO QUE EU SAIBA PARTILHAR TAL QUAL A MINHA AVÓ MATERNA FAZIA.
Lindo texto! Parabéns!
ResponderExcluirObrigada pelo carinho.
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