segunda-feira, 18 de outubro de 2021

FLEXIBILIDADE - VERDADES, MENTIRAS E PRINCIPALMENTE RELFEXÃO


 

Ao conversarmos sobre o convívio com o diferente, a primeira palavra que surge nas rodas de conversas é FLEXIBILIDADE. Também existem textos de teorias de comunicação social que defendem a FLEXIBILIDADE como modelo ideal para o convívio social harmônico.

Alguns desses textos citam o pensamento Chinês  que devemos ser como o bambu, que se curva diante da tempestade para não se quebrar, e comparado com o carvalho oco que se quebra com o vento, a flexibilidade do bambu apresenta-se como bem mais indicado para o enfrentamento das circunstâncias desafiadoras da vida.

FLEXIBILIDADE é uma palavra muitas vezes utilizada para combater modelos de pensamentos autoritários, que se manifestam tão perigosos ao estado democrático de direito.

Mas nunca li nada a respeito, ou ouvi alguém dizendo das aventuras e desventuras de ser FLEXÍVEL. Ganhos, perdas, angústias. Nunca ouvi ninguém relatando a sensação estranha de ter entrado em um mundo confuso e opaco, em um quadro que pode se comparar ao mundo da fantasia por ter sido FLEXÍVEL.

O que ninguém diz é que ser flexível é um dos exercícios mais difíceis na dinâmica das relações humanas. Diria que é quase impossível. Poucos conseguem realmente dominar a arte da diplomacia. Acredito que apenas pessoas muito cultas,  muito capacitadas espiritualmente conseguem isso. Podemos usar como exemplo o Papa Francisco. Flexibilidade eficiente está a partir desse nível, qualquer coisa fora disso pode ser  ILUSÃO e/ou se transformar em manipulação social.

Muitas pessoas que conheço que se dizem flexíveis, na verdade não o são. Com o agravante que não percebem isso. Seu discurso e atitudes sempre estão de algum lado. Na minha teoria, estão sempre do lado daqueles que mais amam. Ou daqueles com os quais realmente concordam e não tem a coragem de admitir.

As pessoas pseudo flexíveis  que passaram pela minha vida, fizeram um ESTRAGO imenso em minha estrutura emocional, além de provocar uma imensa perda de tempo.

Pessoas supostamente  "flexíveis" tem o poder de envolver outras em um "redemoinho" de acontecimentos, emoções, discursos, conflitos que no final não nos levam a nada.

São aprisionantes - não sei se existe essa palavra, mas vocês entenderam.

Incapazes de tomar atitudes e se posicionarem, impedem que outros o façam, garantindo assim o domínio de uma prisão simbólica que arrebata a alma e pode levar ao desespero.

A falsa  "FLEXIBILIDADE" é uma forma de estar no comando - na minha interpretação é uma questão de poder e manipulação - se "gabam" de se darem bem com todos os lados, enquanto traem incessantemente uma das partes. E a traição também envolve uma sensação de poder, mas pode estar relacionada com o medo de se posicionarem e perder o amor e o respeito de quem amam.

Como precisam se manter em harmonia com os princípios cristãos que aprenderam na infância, começam a se preocupar imensamente com a parte que é traída, invadindo espaços simbólicos, negando suas alegrias, condenando suas angústias com cobranças emocionais absurdas.

Para que os pseudo flexíveis sejam bem sucedidos, precisam de uma vítima ideal. Precisam que alguém, no seu ciclo social esteja disposto a "abrir mão" de seus sentimentos, suas percepções e leitura da realidade para construir "encontros sociais harmoniosos", isto é, sem conflitos que se manifestem. Com isso constroem relações ilusórias e a possibilidade de superação de desafios e evolução através das relações sociais ficam totalmente bloqueadas.

Buscam o diálogo apenas com o objetivo de apreender conteúdo, conhecer as defesas de sua vítima, para poder atacar no próximo encontro com mais estratégia e eficácia.

O pseudo flexível pode inventar as desculpas mais "esfarrapadas" para justificar teorias absurdas, crimes, mortes e assassinatos. Ou mesmo para não enfrentar seus medos, covardias e angústias.

No geral, acredito que não sejam pessoas más, isto é, não são pessoas que acordam de manhã e pensam: hoje vou agir "assim ou assado" para prejudicar alguém. Não, não são assim. Na maioria das vezes são pessoas bem intencionadas, mas que podem fazer um grande estrago na vida das pessoas. O preço de sua pseudo flexibilidade é a ILUSÃO e essa gera muita confusão.

É que ser FLEXÍVEL requer habilidade, capacidade de raciocínio, exercício prático. Pra ser verdadeiramente FLEXÍVEL não se pode ter medo do conflito. Às vezes é preciso ter coragem para provocá-lo. Capacidade de insight rápido, agir pela intuição, são todas características que se requer para ser verdadeiramente FLEXÍVEL.

E o mais difícil de tudo, eu diria que ser flexível é viver  a vida em uma constante NEGOCIAÇÃO, é trazer para si mesmo no cotidiano o stress de uma negociação policial com reféns, no estilo dos filmes americanos.

SER FLEXÍVEL É IR DIRETO PARA O FIO DA NAVALHA E ENCONTRAR LÁ A INSPIRAÇÃO PARA ATRAVESSAR PARA OUTRO MODELO DE PENSAMENTO, OUTRO MODO DE VER A VIDA. É um constante exercício de ir vir, em jogo reflexivo dinâmico, que nos coloca sempre em contato com a parte de nós sabemos que não podemos "abrir mão" enquanto nossa vida social nos chama para o combate e nos convida a todo momento pra "abrir mão" daquilo que é sagrado em nós.

Utilizando a metáfora de que a vida é um constante treinamento, talvez a pseudo flexibilidade seja a primeira etapa daqueles que se propõem o exercício da FLEXIBILIDADE PLENA, que é aquela que não condena as diferenças, porque está RADICALMENTE alicerçada nos princípios que acredita, como o Papa Francisco. Infelizmente neste momento não me lembro de qualquer outra figura de destaque ou mesmo em minha vida social, que possa utilizar como exemplo de FLEXIBILIDADE LIBERTADORA.

Mas nossa mente nos engana, olhando mais de perto para o meu quadro extenso de relações sociais, me lembro do Jeferson Boava, diretor sindical morto pela covid; meu marido, João - diretor de escola, alguns ex chefes que tive, Tonha, Pastoral Operária de Santo André, minha amiga Iolanda, que mesmo seguindo a mística de uma Igreja Católica conservadora, sempre me acolheu e me apoiou em minha ação pastoral progressista. Sim olhando de perto, encontramos esperança

Acho que é isso aí, olhando mais de perto, e com a lupa da esperança, conheço muitas pessoas verdadeiramente flexíveis, com capacidade de transformar as diferenças sociais em conteúdos que possibilitem o desenvolvimento pessoal e social de outras pessoas.

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