Padre Ezequiel
dal Pozzo
Hino
Aos 300 Anos de Aparecida - Padre Ezequiel dal Pozzo - LETRAS.MUS.BR
Dia 12/10/2021 os católicos e católicas
brasileiros comemoram o dia de Nossa Senhora Aparecida.
Confesso que fiquei constrangida de escrever
esse texto. Minha editora é evangélica. É que conviver com o diferente é sempre
um desafio. Muito se fala sobre a importância de conviver com o diferente, mas
não vejo relatos sobre isso.
Às vezes comento com amigas íntimas que
considero a questão do convívio com o diferente igual o perdão - só sai por aí
gritando para os outros perdoar quem nunca verdadeiramente o fez, porque quem o
fez sabe a dificuldade que é e aprende a se calar.
Talvez uma das primeiras sensações que o
convívio com o diferente nos causa é o CONSTRANGIMENTO. É estranho sabermos que
aquilo que somos, que acreditamos pode simplesmente ferir o outro, ou pelo
menos causar uma sensação de mal estar.
Para aqueles que se propõe a viver a empatia,
descobre muito cedo que a prática ́da mesma requer sacrifícios.
Faz algum tempo, em um feriado de 08/12 - dia
da Imaculada Conceição, decidi ir para Aparecida do Norte. Fui, fazer o que
todo católico vai fazer lá - rezar, agradecer, pedir, contemplar..... Mas nessa
época já tinha como melhor amiga uma pessoa evangélica da Igreja Congregação
Cristã do Brasil. Temos até hoje uma amizade tipo de adolescente que manda
mensagem todos os dias, e se preocupa com a outra, ouve os problemas, consola nas
tristezas, orienta nas dúvidas. Enfim, fazemos o que todas as boas amigas
fazem.
Mas quando viajei para Aparecida do Norte, por
constrangimento, ou devido a preocupação de não causar constrangimento, não lhe
contei para onde estava indo. Esta amiga que não faz discursos, não fica
gritando aos berros a importância de conviver com o diferente, na segunda
feira, quando chegou no trabalho, sentou em frente a minha mesa, como nunca
fez, me olhou de forma direta e clara, com uma assertividade que não lhe era comum
e perguntou objetivamente: Nilcéia, onde você foi esse fim de semana?
Eu me senti constrangida, e respondi meio sem
graça: Fui pra Aparecida do Norte.
E pra minha surpresa minha amiga continuou o
seu "interrogatório", perguntando:
Como foi?
Eu, meio que "titubeando" contei as
aventuras da viagem, do assédio nas ruas para a indicação de um hotel, da
caminhada na passarela, da contemplação do cair da tarde do alto da torre da
igreja. Contei especialmente da experiência de estar sentada em um banco perto da
igreja com o meu marido, e acho que o coral estava ensaiando a seguinte música:
DESAMARREM AS SANDÁLIAS E DESCANSEM,
ESTE CHÃO É TERRA SANTA IRMÃOS MEUS,
VENHAM, OREM, COMAM, CANTEM
VENHAM TODOS
E RENOVEM A ESPERANÇA NO SENHOR
https://www.letras.mus.br/catolicas/1831900/
Contei com um forte destaque o quanto fiquei
impressionada com pessoas que andam de joelhos. Nesta viagem tive a
oportunidade de contemplar dois casos. Uma mulher que atravessou toda a
passarela que liga a Igreja velha a basílica de joelhos, isso mesmo caminhando
ajoelhada. Já quase no final, o homem que estava ao seu lado parece tentar
convencê-la a se levantar e ela o empurra pro lado. Estava claro que aquela
mulher tinha uma missão a cumprir e não ia permitir que as dores no joelho e a
voz de alguém lhe convencessem a desistir.
Outro caso, foi de um senhor, dentro da
basílica, que também se encaminhou até o altar de joelhos.
Não sou adepta de tais práticas religiosas,
mas tenho uma profunda admiração por quem o é e assim o faz. Escolher fazer um
gesto de sofrimento próprio em intenção de louvor e agradecimento por uma graça
alcançada, em uma sociedade que cultua o prazer, a vitória e nega a dor,
parece-me um ato revolucionário. Diria que é uma tradição revolucionária.
O "maior legal" de tudo é que minha
amiga evangélica ouviu tudo isso, de forma imparcial, tranquila,
sensibilizou-se com as pessoas, sentiu sua dor, pensou que provavelmente era
alguma mãe ou pai que alcançou alguma graça para os filhos, porque somente o
amor maternal e paternal pode motivar tamanho sacrifício. Riu da aventura de
encontrar o hotel, gostou da música e então recebi a maior lição do que é
CONVIVER COM O DIFERENTE.
Essa lição não veio em forma de discurso
pronto, mas em forma de atitude concreta, que se manifesta claramente no
comportamento de ouvir, mas antes disso de deixar claro que a amizade comporta
"espaço simbólico" para o relato de discursos e experiências religiosas
diferentes.
Na verdadeira amizade as diferenças se tornam
complementaridades que tornam a relação uma aventura agradável e rica em
aprendizado, conhecimento e desenvolvimento.
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