Convívio com o diferente
Resposta ao Greg News
No 12º episódio da quinta temporada do
Greg News - Vídeo you tu be – denominado PARE DE SOFRER Gregório Duvivier faz
uma confissão:
Não tenho fé. Não consigo ter um relacionamento com Deus. Não que eu não tenha
tentado. Deus não tem responsabilidade emocional comigo. Não que eu discorde
dele. Ficaria "puto" se Deus perdesse tempo comigo com tanta coisa
acontecendo. As pessoas falam o tempo todo, vai com Deus e eu pergunto: gente
como faz? cadê? Eu não ia conseguir me converter a essa altura da vida, Deus ia
sacar que eu estou sendo interesseiro. Porque não dá pra uma pessoa passar 35
anos "praguejando" , falando que o sujeto não presta ou não existe, e
de repente mandar uma mensagem...porque Deus pode até não existir, mas ele não
é idiota. https://youtu.be/QhyQp4xeE7w
Antes de começar a escrever sobre o vídeo
PARE DE SOFRER, quero explicitar quem eu sou: Sou Católica Apostólica Romana
– praticante assídua, participante dos Movimentos Sociais da Igreja, portanto
progressista. Mas também sou adepta de outras expressões de fé dentro da
própria Igreja, de abordagem mais intimista. Gosto de algumas tradições
antigas, como a oração do Terço, Adoração ao Santíssimo Sacramento e Devoção do
Sagrado Coração de Jesus. São as práticas espirituais que me sustentam na luta.
Como católica, não tenho qualquer
preocupação com pessoas ateias. Uma das minhas melhores amigas é. Sei conviver
com diferenças. Aprendi isso “aqui embaixo", nas atividades religiosas, no
salão de festas da Igreja, no "chão de fábrica", nos pontos de
ônibus, no local de trabalho, nos encontros de família, nos churrascos entre amigos,
nos encontros em barzinhos, enfim na “lida” da vida.
É exatamente o ser católica que me
capacita internamente para o convívio com o diferente. Que me instrumentaliza
interiormente para ouvir opiniões diferentes das minhas, elaborá-las, aprender
com elas e transformar minhas relações sociais em um processo contínuo de
aprendizado e desenvolvimento. Sendo assim, não vejo problema em conviver com
pessoas ateias e diferentes de mim.
Por outro lado, tenho um número grande de
amigos que mesmo acreditando em Deus, não frequentavam qualquer instituição
religiosa e seus princípios “morais rigorosos”, viviam a partir de outros
princípios, os chamados princípios "do mundo" e em um determinado
momento se converteram a uma igreja evangélica radical.
Eu me divertirei muito se isso acontecer
com o Gregório Duvivier.
Quem sabe ele passe pela experiência de São Paulo, de "cair do
cavalo" conforme Atos do Apóstolos - 26:12-14 - https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/atos-dos-apostolos/26/ - e tem sua vida totalmente
transformada por Deus! Rss
Também preciso deixar claro que sou fã do
Greg News e inscrita no canal, apesar de discordar de algumas interpretações
que ele faz. Considero esse discordar extremamente saudável, pois caso
contrário seria transportar a prática da FÉ IRRACIONAL para um humorista e não
considero isso muito adequado.
Ouço os vídeos na medida do possível, quando o meu
tempo permite, normalmente conciliando com outras atividades domésticas. Levo
muito a sério a característica que atribuíram à mulher brasileira de ser
multitarefa. Não sei se realmente gostamos disso. Talvez o façamos porque não
temos opção mesmo.
É deste lugar social, que faço os
comentários sobre o vídeo e seu apresentador, Gregório Duvivier.
O vídeo trouxe em minha alma um tema que
me inquieta com frequência - O CONVÍVIO COM O DIFERENTE. Falamos muito
sobre isso, mas acredito que pouco se pratica. Ou seja, o vídeo inspirou em mim
reflexões. Acredito que essa é a intenção do artista.
Não considerei o vídeo desrespeitoso e não
faço uso em meus textos, das máximas comum em nossa sociedade atual, tais como
respeite a minha posição, isso é um lixo,
Escrevo a partir das percepções que tenho
através do meu relacionamento com as pessoas, que diante do impacto que a fala
do artista causa, se cala, recua passivamente e silencia-se procurando
compreender e elaborar o impacto das palavras. É possível que a fala do artista
gere uma “sensação de estranheza” ao espírito dessas pessoas e essa
“estranheza” provoque um sentimento de “repulsa”.
Essas pessoas possivelmente anulam o voto
nas eleições ou não votam na tendência política do artista.
Se eu pudesse encontrar o Gregório
pessoalmente eu lhe diria o seguinte:
·
Achei muito interessante a
sinceridade. A confissão pública. Já ouvi comentários que os primeiros cristãos
faziam suas confissões em público, no púlpito das igrejas. Se isso for verdade,
a internet é um bom local para se fazer confissão. Mais pública que a internet
desconheço.
·
Se tivesse que citar a Bíblia
pra você citaria provérbios 18,2 - 2 O insensato não gosta da discrição; só
quer espalhar o que pensa.
http://www.paulus.com.br/biblia-pastoral/_PKG.HTM.
Isso não é uma crítica – também sou assim, por isso fiz um blog, face
book e instagram em parceria com a @Editando.Projetos, participo de Movimentos
Sociais e sindicato, de encontros para trocas de ideias, assisto e dou
palestras, etc, etc, etc....
·
Posso pedir sim que Deus
fique com você. Sem problemas para mim. É só mais um item na minha relação de
pedidos.
·
Se você tivesse a
possibilidade de conversar com um cristão e ouvi-lo sem preconceitos, ele te
explicaria que Deus vai sempre com você, comigo e com todos, quer você queira
ou não, porque Ele é onisciente e onipresente, e que Ele pode sim se ocupar com
você e que isso não atrapalha em nada a preocupação que Ele tem com o resto do
planeta, porque Ele é Todo Poderoso.
Os cinco primeiros itens, eu os pensei com
um “bom humor católico”, a partir do carinho que aprendi a ter com todos e
todas que pensam diferente de mim. Mas as colocações seguintes as faço imbuída
da seriedade que minha religião me inspirou:
·
Como pessoa pública e
claramente politizada, o problema NÃO ESTÁ em você não entender Deus e
toda a teologia, poesias, ritos existentes na tentativa de explicá-lo e viver a
experiência religiosa. Isso é diferença de percepção da realidade, e tudo
bem. O PROBLEMA ESTÁ EM NÃO ENTENDER AS PESSOAS QUE ACREDITAM NELE E
VIVEM NO MESMO PAÍS QUE VOCÊ.
·
Sendo assim, tenho um
pedido: Não faça mais piada com questões religiosas, de Deus, Jesus, Maria e
outros.
·
E antes que me responda
com o discurso pronto do direito de expressão, lhe faço uma pergunta: Para quem
é mais fácil abrir mão da divulgação de um dos aspectos de sua leitura de mundo?
Pro Gregório, que tem o
seu direito de liberdade de expressão artística garantido à sua classe social,
ou a faxineira que ganha salário mínimo e possui como única possibilidade de
acesso a um conhecimento que transcenda a sua dura realidade, a Igreja do seu
bairro?
E justificaria o meu último pedido:
O que você não entende, é que muitas
pessoas possuem apenas a fé como instrumento de organização interior. Que toda
a sua estrutura psíquica está organizada a partir da sua fé. É a fé que
sustenta, direciona, encaminha. Não possuem mais nada. Não encontram em seu
cotidiano nenhuma outra forma de expressão cultural, onde possam canalizar as
suas angústias e esperanças.
E pra essas pessoas é muito difícil ouvir
piadas sobre Deus. Eu diria que pra elas é mais perigoso ouvir piadas sobre
Deus do que perder o bolsa família, todos os direitos trabalhistas e etc.
Porque sua fé lhes dão a crença inabalável de que podem continuar a lutar,
enquanto uma sátira a Deus é tão grave, que só consigo explicar metaforicamente:
Não apenas lhe estraçalha a alma, mas
atinge seu coração com uma lança e retira o chão onde pisa todos os dias e vai
à luta para ganhar um salário básico que garante a sua sobrevivência e de quem
ama.
Irracional? Provavelmente.
É que AQUI EMBAIXO SE VIVE, SE
SOBREVIVE PELA FÉ.
Mas além, ou a partir disso tenho outra
preocupação:
O QUE OS RADICAIS CONSERVADORES PODEM FAZER COM AS SUAS FALAS EM ÉPOCA DE
ELEIÇÃO?
Uma amiga totalmente progressista, e sem
uma vida religiosa intensa, diz que não tem raiva da extrema direita. Ela está
fazendo a parte dela. Está na periferia, em cada Igreja Evangélica de esquina,
e o Pastor fala "todo santo dia" no ouvido das pessoas os conteúdos
que nós achamos absurdos. E mais - o pastor está lá, na vida das pessoas - no
nascimento, no casamento, na doença, no aniversário do filho e principalmente
na morte. E nós? Estamos debatendo Greg News na internet.
Pra encerrar meu encontro imaginário com
Gregório Duvivier eu daria mais algumas sugestões a ele:
·
Se for possível evite fazer
humor daquilo que você não conhece e consequentemente não entende. Porque tenho
certeza que usarão o seu humor como “arma ideológica” contra aqueles que lutam
por justiça social neste país nas próximas eleições e eu não sei até quando eu
aguento aqui embaixo sem ter direito a nada.
·
Se for possível assista a
entrevista do Padre Leo ao Jó Soares. (15) Padre
Léo Entrevista no Jô Soares Completa www padrele - YouTube – Aos 17 minutos e seis segundos ele fala sobre o
humor e conclui que só é realmente engraçado quem é muito sério.
·
Leia Rubem Alves, teólogo e
psicanalista, perseguido pela ditadura, que diz no texto A festa de Babete: Penso que Deus deve ter sido um artista brincalhão para inventar
coisas tão incríveis para se comer - A festa de Babete | Rubem Alves: (wordpress.com) ou A cegueira | Rubem Alves: (wordpress.com)
·
Leia Dom Pedro Casaldáliga,
Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Helder Câmara e outros que no passado fizeram um
grande esforço intelectual e prático para possibilitar a sobrevivência do
pensamento múltiplo em nossa sociedade.
·
Eu sei que é muita coisa.
Conviver com o diferente dá muito trabalho mesmo. “Trabalho” emocional e
intelectual.
Peço carinhosamente que você faça isso,
porque preciso da esperança que o pensamento nazista será derrotado no Brasil.
Mas não sei se realmente teremos alguma chance nas próximas eleições.
Pois a história recente deste país me
mostra que é só um humorista ou artista exigir o seu direito de expressão, para
que muita gente politizada e apta a fazer campanha política e ideológica “aqui
em baixo” na periferia, ir na "onda", "chutar o pau da
barraca" e "enfiar uma espada" na alma do brasileiro religioso.
E lá se vai a esperança de se repor a
civilidade deste país via voto.
Sei que todos têm o direito à expressão.
A questão política aqui é a seguinte -
TODA EXPRESSÃO TEM CONSEQUÊNCIAS.
E neste caso consequências graves.
Minha amiga ateia citada neste texto é ELISA FIGUEIREDO. Diretora sindical, mulher militante em causas desafiadoras, das quais apenas uma discordo radicalmente. Não mede esforços para que a nossa amizade seja uma experiência rica em DIÁLOGOS produtivos e gratificantes do ponto de vista intelectual, sem nunca perder a sensibilidade poética do acolhimento afetivo nos momentos em que estes se tornam a única resposta possível aos desafios do cotidiano.
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