segunda-feira, 30 de agosto de 2021

DIÁLOGO IMAGINÁRIO


Convívio com o diferente
Resposta ao Greg News

 

No 12º episódio da quinta temporada do Greg News - Vídeo you tu be – denominado PARE DE SOFRER Gregório Duvivier faz uma confissão:
Não tenho fé. Não consigo ter um relacionamento com Deus. Não que eu não tenha tentado. Deus não tem responsabilidade emocional comigo. Não que eu discorde dele. Ficaria "puto" se Deus perdesse tempo comigo com tanta coisa acontecendo. As pessoas falam o tempo todo, vai com Deus e eu pergunto: gente como faz? cadê? Eu não ia conseguir me converter a essa altura da vida, Deus ia sacar que eu estou sendo interesseiro. Porque não dá pra uma pessoa passar 35 anos "praguejando" , falando que o sujeto não presta ou não existe, e de repente mandar uma mensagem...porque Deus pode até não existir, mas ele não é idiota. 
https://youtu.be/QhyQp4xeE7w

Antes de começar a escrever sobre o vídeo PARE DE SOFRER, quero explicitar quem eu sou: Sou Católica Apostólica Romana – praticante assídua, participante dos Movimentos Sociais da Igreja, portanto progressista. Mas também sou adepta de outras expressões de fé dentro da própria Igreja, de abordagem mais intimista. Gosto de algumas tradições antigas, como a oração do Terço, Adoração ao Santíssimo Sacramento e Devoção do Sagrado Coração de Jesus. São as práticas espirituais que me sustentam na luta.

Como católica, não tenho qualquer preocupação com pessoas ateias. Uma das minhas melhores amigas é. Sei conviver com diferenças. Aprendi isso “aqui embaixo", nas atividades religiosas, no salão de festas da Igreja, no "chão de fábrica", nos pontos de ônibus, no local de trabalho, nos encontros de família, nos churrascos entre amigos, nos encontros em barzinhos, enfim na “lida” da vida.

É exatamente o ser católica que me capacita internamente para o convívio com o diferente. Que me instrumentaliza interiormente para ouvir opiniões diferentes das minhas, elaborá-las, aprender com elas e transformar minhas relações sociais em um processo contínuo de aprendizado e desenvolvimento. Sendo assim, não vejo problema em conviver com pessoas ateias e diferentes de mim.

Por outro lado, tenho um número grande de amigos que mesmo acreditando em Deus, não frequentavam qualquer instituição religiosa e seus princípios “morais rigorosos”, viviam a partir de outros princípios, os chamados princípios "do mundo" e em um determinado momento se converteram a uma igreja evangélica radical.

Eu me divertirei muito se isso acontecer com o Gregório Duvivier. Quem sabe ele passe pela experiência de São Paulo, de "cair do cavalo" conforme Atos do Apóstolos - 26:12-14 - https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/atos-dos-apostolos/26/ -  e tem sua vida totalmente transformada por Deus! Rss

Também preciso deixar claro que sou fã do Greg News e inscrita no canal, apesar de discordar de algumas interpretações que ele faz. Considero esse discordar extremamente saudável, pois caso contrário seria transportar a prática da FÉ IRRACIONAL para um humorista e não considero isso muito adequado.

Ouço os vídeos na medida do possível, quando o meu tempo permite, normalmente conciliando com outras atividades domésticas. Levo muito a sério a característica que atribuíram à mulher brasileira de ser multitarefa. Não sei se realmente gostamos disso. Talvez o façamos porque não temos opção mesmo.

É deste lugar social, que faço os comentários sobre o vídeo e seu apresentador, Gregório Duvivier.

O vídeo trouxe em minha alma um tema que me inquieta com frequência - O CONVÍVIO COM O DIFERENTE. Falamos muito sobre isso, mas acredito que pouco se pratica. Ou seja, o vídeo inspirou em mim reflexões. Acredito que essa é a intenção do artista.

Não considerei o vídeo desrespeitoso e não faço uso em meus textos, das máximas comum em nossa sociedade atual, tais como respeite a minha posição, isso é um lixo,

Escrevo a partir das percepções que tenho através do meu relacionamento com as pessoas, que diante do impacto que a fala do artista causa, se cala, recua passivamente e silencia-se procurando compreender e elaborar o impacto das palavras. É possível que a fala do artista gere uma “sensação de estranheza” ao espírito dessas pessoas e essa “estranheza” provoque um sentimento de “repulsa”.

Essas pessoas possivelmente anulam o voto nas eleições ou não votam na tendência política do artista.

Se eu pudesse encontrar o Gregório pessoalmente eu lhe diria o seguinte:

·         Achei muito interessante a sinceridade. A confissão pública. Já ouvi comentários que os primeiros cristãos faziam suas confissões em público, no púlpito das igrejas. Se isso for verdade, a internet é um bom local para se fazer confissão. Mais pública que a internet desconheço.

·         Se tivesse que citar a Bíblia pra você citaria provérbios 18,2 - 2 O insensato não gosta da discrição; só quer espalhar o que pensa. 
http://www.paulus.com.br/biblia-pastoral/_PKG.HTM.  
Isso não é uma crítica – também sou assim, por isso fiz um blog, face book e instagram em parceria com a @Editando.Projetos, participo de Movimentos Sociais e sindicato, de encontros para trocas de ideias, assisto e dou palestras, etc, etc, etc....

·         Posso pedir sim que Deus fique com você. Sem problemas para mim. É só mais um item na minha relação de pedidos. 

·         Se você tivesse a possibilidade de conversar com um cristão e ouvi-lo sem preconceitos, ele te explicaria que Deus vai sempre com você, comigo e com todos, quer você queira ou não, porque Ele é onisciente e onipresente, e que Ele pode sim se ocupar com você e que isso não atrapalha em nada a preocupação que Ele tem com o resto do planeta, porque Ele é Todo Poderoso.

Os cinco primeiros itens, eu os pensei com um “bom humor católico”, a partir do carinho que aprendi a ter com todos e todas que pensam diferente de mim. Mas as colocações seguintes as faço imbuída da seriedade que minha religião me inspirou:

·         Como pessoa pública e claramente politizada, o problema NÃO ESTÁ em você não entender Deus e toda a teologia, poesias, ritos existentes na tentativa de explicá-lo e viver a experiência religiosa. Isso é diferença de percepção da realidade, e tudo bem.  O PROBLEMA ESTÁ EM NÃO ENTENDER AS PESSOAS QUE ACREDITAM NELE E VIVEM NO MESMO PAÍS QUE VOCÊ.

·         Sendo assim, tenho um pedido: Não faça mais piada com questões religiosas, de Deus, Jesus, Maria e outros.

·         E antes que me responda com o discurso pronto do direito de expressão, lhe faço uma pergunta: Para quem é mais fácil abrir mão da divulgação de um dos aspectos de sua leitura de mundo?
Pro Gregório, que tem o seu direito de liberdade de expressão artística garantido à sua classe social, ou a faxineira que ganha salário mínimo e possui como única possibilidade de acesso a um conhecimento que transcenda a sua dura realidade, a Igreja do seu bairro?

E justificaria o meu último pedido:

O que você não entende, é que muitas pessoas possuem apenas a fé como instrumento de organização interior. Que toda a sua estrutura psíquica está organizada a partir da sua fé. É a fé que sustenta, direciona, encaminha. Não possuem mais nada. Não encontram em seu cotidiano nenhuma outra forma de expressão cultural, onde possam canalizar as suas angústias e esperanças.

E pra essas pessoas é muito difícil ouvir piadas sobre Deus. Eu diria que pra elas é mais perigoso ouvir piadas sobre Deus do que perder o bolsa família, todos os direitos trabalhistas e etc. Porque sua fé lhes dão a crença inabalável de que podem continuar a lutar, enquanto uma sátira a Deus é tão grave, que só consigo explicar metaforicamente:

Não apenas lhe estraçalha a alma, mas atinge seu coração com uma lança e retira o chão onde pisa todos os dias e vai à luta para ganhar um salário básico que garante a sua sobrevivência e de quem ama.

Irracional? Provavelmente.

É que AQUI EMBAIXO SE VIVE, SE SOBREVIVE PELA FÉ.

Mas além, ou a partir disso tenho outra preocupação:
O QUE OS RADICAIS CONSERVADORES PODEM FAZER COM AS SUAS FALAS EM ÉPOCA DE ELEIÇÃO?

Uma amiga totalmente progressista, e sem uma vida religiosa intensa, diz que não tem raiva da extrema direita. Ela está fazendo a parte dela. Está na periferia, em cada Igreja Evangélica de esquina, e o Pastor fala "todo santo dia" no ouvido das pessoas os conteúdos que nós achamos absurdos. E mais - o pastor está lá, na vida das pessoas - no nascimento, no casamento, na doença, no aniversário do filho e principalmente na morte. E nós? Estamos debatendo Greg News na internet.

Pra encerrar meu encontro imaginário com Gregório Duvivier eu daria mais algumas sugestões a ele:

·         Se for possível evite fazer humor daquilo que você não conhece e consequentemente não entende. Porque tenho certeza que usarão o seu humor como “arma ideológica” contra aqueles que lutam por justiça social neste país nas próximas eleições e eu não sei até quando eu aguento aqui embaixo sem ter direito a nada.

·         Se for possível assista a entrevista do Padre Leo ao Jó Soares. (15) Padre Léo Entrevista no Jô Soares Completa www padrele - YouTubeAos 17 minutos e seis segundos ele fala sobre o humor e conclui que só é realmente engraçado quem é muito sério.

·         Leia Rubem Alves, teólogo e psicanalista, perseguido pela ditadura, que diz no texto A festa de Babete: Penso que Deus deve ter sido um artista brincalhão para inventar coisas tão incríveis para se comer - A festa de Babete | Rubem Alves: (wordpress.com) ou A cegueira | Rubem Alves: (wordpress.com)

·         Leia Dom Pedro Casaldáliga, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Helder Câmara e outros que no passado fizeram um grande esforço intelectual e prático para possibilitar a sobrevivência do pensamento múltiplo em nossa sociedade.

·         Eu sei que é muita coisa. Conviver com o diferente dá muito trabalho mesmo. “Trabalho” emocional e intelectual.

Peço carinhosamente que você faça isso, porque preciso da esperança que o pensamento nazista será derrotado no Brasil. Mas não sei se realmente teremos alguma chance nas próximas eleições.

Pois a história recente deste país me mostra que é só um humorista ou artista exigir o seu direito de expressão, para que muita gente politizada e apta a fazer campanha política e ideológica “aqui em baixo” na periferia, ir na "onda", "chutar o pau da barraca" e "enfiar uma espada" na alma do brasileiro religioso.

E lá se vai a esperança de se repor a civilidade deste país via voto.

Sei que todos têm o direito à expressão.

A questão política aqui é a seguinte - TODA EXPRESSÃO TEM CONSEQUÊNCIAS.

E neste caso consequências graves.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um comentário:

  1. Minha amiga ateia citada neste texto é ELISA FIGUEIREDO. Diretora sindical, mulher militante em causas desafiadoras, das quais apenas uma discordo radicalmente. Não mede esforços para que a nossa amizade seja uma experiência rica em DIÁLOGOS produtivos e gratificantes do ponto de vista intelectual, sem nunca perder a sensibilidade poética do acolhimento afetivo nos momentos em que estes se tornam a única resposta possível aos desafios do cotidiano.

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