CONTINUAR,
SIMPLESMENTE CONTINUAR.....
Tu
tive muitas dificuldades financeiras para pagar e fazer a minha faculdade, e na
época encontrei pessoas que me apoiaram. Mas encontrei pessoas que me
criticaram muito. Uma dessas pessoas me disse que quando se tratava da minha
vida financeira, eu usava “TÉCNICA DO AVESTRUZ”, que segundo uma lenda, coloca
a cabeça em um buraco e deixa o corpo todo de fora quando encontra o perigo.
Não
tenho mágoa ou ressentimento em relação às pessoas que fizeram essas críticas. Quem
as fez, não sabia que se eu olhasse de frente para a minha realidade financeira
e a aceitasse passivamente, decidindo racionalmente a desistir
de estudar por não ter como pagar a faculdade, eu simplesmente morreria.
Não
sei se morreria fisicamente, talvez sim, talvez não. Mas simbolicamente tenho
certeza que eu morreria.
Hoje
percebo que muitas vezes as pessoas não "dão conta" de uma realidade
que "salta aos olhos" em nossa sociedade - A DIFERENÇA
CULTURAL ENTRE AS CLASSES SOCIAIS E O IMPACTO DESSA DIFERENÇA NA CONSTITUIÇÃO
INTERNA DA PERSONALIDADE INDIVIDUAL.
A FORÇA
INTERIOR que pode surgir de uma vida de privações, me parece
inconcebível para a classe média, mesmo a classe intelectual.
Acredito
que as pessoas de classe social mais abastadas – a chamada classe média -
não entendem, não conseguem vislumbrar, conceber, imaginar algo que pra
mim estava muito claro na época da faculdade e continua até hoje:
EU NÃO PODIA OLHAR DE FRENTE A MINHA REALIDADE FINANCEIRA E AS LIMITAÇÕES
QUE ELA ME IMPUNHA, NÃO PODIA SER RACIONAL EM MINHAS DECISÕES E ESCOLHER APENAS
O QUE A SITUAÇÃO FINANCEIRA ME PERMITIA.
Eu simplesmente TINHA de trabalhar dia e noite pelos meus
sonhos e projetos.
Na
época eu nem sabia a diferença conceitual entre sonhos,
objetivos e projetos - Blog da ABAC | Como
transformar sonhos em projetos - Blog da ABAC – Pra mim era tudo uma coisa só, um “bolo” recheado de emoções que ardiam em
meu peito e alma e me fazia seguir em frente, estudando, trabalhando e
sonhando.
Simplesmente,
porque para mim, para o meu espírito desbravador a minha realidade era
inaceitável. Eu precisava ir atrás de algo mais, de outras possibilidades,
outras realizações.
Fiel
a minha crença na possibilidade da transcendência através do esforço pessoal na
luta individual, social, ideológica, política e espiritual, eu continuei, e
continuei, e continuei......
Não
que a minha realidade era das piores comparada com outras mulheres da minha
classe social. Do ponto de vista de muitas outras mulheres da minha
época, eu fui privilegiada. HOJE TENHO CONSCIÊNCIA DE QUE EXISTE NO
MUNDO MUITAS OUTRAS DORES MAIORES QUE A MINHA. E isso seria cômico se
não fosse trágico, porque nem mesmo o meu nível de dor social é concebido –
imaginado – pelas pessoas que estavam do outro lado da linha econômica/financeira
e intelectual.
Mas,
mesmo enfrentando incompreensões, a simples ideia de não ter acesso aquilo que
pra mim era direito básico, que é o SABER, o CONHECER,
era algo inaceitável. Não ter acesso a livros, a possibilidade ampla de
conhecer, de saber tanto o quanto é possível aprender, me arrasava por
dentro.
Soma-se
a isso a consciência, de que a vida para a mulher que não tinha independência
financeira não era nada agradável, eu tinha firme dentro de
mim que eu tinha de continuar.
Eu
precisava continuar, continuar, continuar....
Caminhar,
caminhar, caminhar....
Ainda
que "morta de sono" por causa do muito fazer.
Ainda
que sem dinheiro até mesmo para o lanche da noite.
Ainda
que cheia de lágrimas no rosto por não saber como pagar a faculdade.
Ou
sem tempo para estudar para as provas – sendo reprovada em algumas disciplinas.
Fazendo
malabarismo para equilibrar o tempo.
Ou
usando roupas ganhas.
Ou,
etc....
Eu
precisava continuar. EU SIMPLESMENTE PRECISAVA CONTINUAR
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