Estamos Com A Vida Em Perigo

TÉCNICA DO AVESTRUZ

Terror das teorias da eficácia e da prosperidade. Muito eficiente para a prática da procrastinação e mais eficiente ainda no exercício do equilíbrio emocional neste cotidiano caótico que estamos vivendo com a pandemia e todas as perdas irreparáveis que ela nos trouxe, a "TÉCNICA DO AVESTRUZ" nos ensina a deixar de lado os assuntos que nos angustiam além da conta.

No que consiste?

Dizem que o avestruz quando está em perigo, ao vê a sua vida ameaçada enfia a cabeça no chão e deixa todo o corpo de fora. Do ponto de vista popular, acho que seria o equivalente a "FAZER CARA DE PAISAGEM". Do ponto de vista da minha amiga advogada, poder-se-ia dizer que é o equivalente a ABSTRAIR-SE. Me encantei pela palavra ABSTRAIR quando uma amiga advogada ao me ajudar na resolução de intenso conflito profissional em que eu fazia o papel de orientadora. A situação estava minando as minhas forças e colocando os meus recursos de administração de conflitos em xeque mate. Essa amiga me disse muito calmamente - você precisa ABSTRAIR-SE - afastar-se do problema. Eu achei estranho porque para mim ABSTRAIR significava aprofundar-se. E então fui pesquisar no google o significado da palavra e descobri que ela tem os dois significados - aprofundar-se, mas também afastar-se, distanciar-se do problema para melhor compreendê-lo.

VERBO ABSTRAIR:
observar (um ou mais elementos de um todo), avaliando características e propriedades em separado -  elementos de um discurso para separar fatos de suposições -  não considerar, não levar em conta; alhear-se de tudo que não é essencial, concentrar-se, deter toda a atenção em; absorver-se na leitura de um livro https://www.bing.com/search?q=abstrair+significado&form=ANNTH1&refig=3850a141c39a411296bd088aaf757444&sp=3&qs=SC&pq=abstrari&sk=PRES1UT1SC1&sc=8-8&cvid=3850a141c39a411296bd088aaf757444

E então passei a adotar o princípio de abstrair-se em minha vida, e aprendi a fazer "cara de paisagem" diante do sofrimento, contemplando-o como quem olha distraída e encantada o pôr do sol, uma flor, uma criança brincando. Mas quando tudo isso falha no objetivo primeiro de recuperar o equilíbrio emocional, não tenho dúvida - lanço mão da "técnica do avestruz".

Descobri que eu fazia uso do "TÉCNICA DO AVESTRUZ" ainda muito jovem, quando fazia faculdade de psicologia em uma situação de orientação. Sem dinheiro até mesmo pra pagar a faculdade - vivi em uma época em que praticamente não havia qualquer projeto governamental para a entrada do pobre na faculdade - eu decidi que faria faculdade. E assim o fiz, utilizando como recurso primeiro para sobreviver e alcançar o meu objetivo apenas a TEIMOSIA.  Com dificuldades para pagar a faculdade, eu chorava muito, e mesmo em uma péssima situação financeira fui buscar ajuda terapêutica.  A terapeuta era muito jovem e diante da minha recusa em aceitar a minha realidade financeira que me impossibilitava de pagar a faculdade me disse que eu estava usando a "TÉCNICA DO AVESTRUZ", fugindo dos problemas. Portanto ela foi a primeira pessoa que nomeou o meu jeito de enfrentar algumas situações extremamente desafiadoras. Tudo bem que ela interpretou a minha "TÉCNICA" de uma forma pejorativa, de uma forma negativa, sugerindo que era um comportamento que eu deveria superar. Demorei anos pra elaborar essa afirmação dela, e assumir com naturalidade a minha "TÉCNICA DO AVESTRUZ" rss. E hoje essa se tornou um recurso do qual eu "lanço mão" com naturalidade.

Hoje a compartilho com as amigas mais íntimas, e se tornou uma brincadeira saudável, uma forma tranquila de expressar aquilo que NÃO estamos prontas para enfrentar no momento e queremos deixar de lado e esperar mais um pouco, até o coração se acalmar, a alma se reencontrar e a esperança se renovar no espírito. Temos consciência que é uma prática um pouco perigosa, pois os perigos continuam existindo à nossa volta e podemos ser atingidos a qualquer momento, Mas é um risco calculado intuitivamente, pois sabemos que se enfrentarmos algo sem estarmos preparados, o risco emocional interior pode ser muito maior.  

Uma amiga específica, quando me manda mensagem sobre assuntos polêmicos e eu não respondo, ela manda mensagem perguntando carinhosamente:

NILCEIA, VOCÊ ESTÁ EVITANDO ESSE ASSUNTO?

Se eu responder "objetivamente" que estou em pleno uso da "TÉCNICA DO AVESTRUZ",  rimos juntas. Ela se oferece para retornar ao assunto SUAVEMENTE em outro momento oportuno, e nos comprometemos como duas adolescentes a NUNCA DESISTIR UMA DA OUTRA.

Tudo isso foi para dizer simbolicamente que nos próximos dias, talvez meses ficarei sem falar da partida do meu pai dessa vida. Escreverei sobre outras coisas, sobre outros assuntos. Olharei para outros temas, alguns polêmicos, outros melancólicos, e até mesmo sei que encontrarei felicidades para partilhar. Mas enquanto o corpo se expõe ao mundo e a todos os seus riscos de morte, em uma parte um pouco escondida da minha alma, habita uma tristeza de nome SAUDADE e essa talvez nunca mais passe, pois estou descobrindo que depois de uma perda significativa nunca mais somos os mesmos. 

Como eu não tinha certeza do comportamento do avestruz, se é verdade ou não que ele coloca a cabeça no buraco diante do perigo, fui procurar no google. Porque no meio de tudo que estamos vivendo, passar fake news de avestruz seria uma falha um tanto quanto séria - rss -  https://www.uol.com.br/tilt/ultimas-noticias/redacao/2017/10/17/clique-ciencia-por-que-a-avestruz-esconde-a-cabeca-no-buraco.htm - e descobri que é apenas uma LENDA, e que o avestruz possui grande capacidade de correr e grande força nas pernas, caso precise atacar ou defender-se

Mas correr e/ou atacar, são temas para um possível outro texto. Sendo mulher, sabemos de antemão que sou múltipla.