terça-feira, 13 de julho de 2021

Reflexão Sobre O Número De Mortes Pelo O Vírus Da Covid-19


ORGANIZANDO O FIO DO PENSAMENTO

 

Quando escrevi os meus primeiros textos para o blog me vi falando sobre minha mãe e minha relação com ela. Me vi revivendo um momento místico da relação maternal e me senti encantada com isso.

Mas logo depois de viver essa experiência encantadora, voltei pra realidade e me deparei com o imenso número de mortes pela COVID 19, em especial no nosso país, onde um conjunto de fatores políticos e sociais promoveram e estão promovendo um número imenso de vítimas.

No meio do excesso das mensagens virtuais e em plena CPI da COVID, que comprova a irresponsabilidade política de muitos, recebi uma poesia pelo watsapp de Adriana Skamvetsakis, que me mobilizou particularmente.

Vou citar uma pequena estrofe:
500 mil mortos
Pra cada vida perdida
Pra cada morte não evitada
Uma parte de mim também morreu.

Essas palavras bateram em mim como um soco no estômago, acusando-me de insensibilidade por estar aqui vivendo um momento nostálgico e místico em relação ao meu passado, revivendo momentos encantadores da minha relação maternal, enquanto o Anjo da Morte passa pelo país, sem escolher casas pra serem marcadas. E sua passagem está garantida, os caminhos todos abertos. Ele transita livremente pois possui o selo de nossa irresponsabilidade política, social, moral, ética, científica e ambiental.

Nossa vida em sociedade mostra sua faceta mais macabra, expressada em números absurdos, deixando claro que o modelo de vida escolhido, nosso “jeito” de ser e estar no mundo, gera em suas entranhas o oposto daquilo que pulsa em todo ser vivente - gera a sua morte.

A falta de ar, o suspiro que já não pode ocorrer, retirando o último sopro de vida e esperança, deixando-nos a mercê e diante do abismo do desconhecido que é a morte - os olhos, que dizem ser a janela para a alma - são fechados, no último gesto humano de respeito para com aquela vida. Respeito esse que não encontrou na sociedade que lhe promoveu a própria morte com comportamentos sócio/políticos irresponsáveis.

Enquanto escrevo me lembro da frase da música do Zé Geraldo - tudo isso acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos. A metáfora é verdadeira apenas simbolicamente, no sentido de fazer o exercício de abstrair da realidade. No sentido prático vivemos o avesso do avesso - fomos expulsos das praças pela realidade contaminante e enclausurados no interior das nossas casas. Adaptando a música do Zé Geraldo a minha realidade poderia dizer: tudo isso acontecendo e eu aqui em casa escrevendo lembranças nostálgicas sobre a minha mãe, sem ser o dia das mães, sem aniversário de nascimento ou de morte, ou do dia das mulheres. Apenas me deixando levar pela nostalgia.

Mas para mim essa nostalgia não é uma prática alienante de fuga da realidade, muito pelo contrário. É neste exercício nostálgico no interior da minha casa, que busco na memória do passado a experiência mística maternal, o encantamento tão necessário para o enfrentamento deste momento desafiador. A voz da mãe dizendo VOCÊ PODE SER, me impulsionando pra frente enquanto o senso de responsabilidade social impõe o recuo a solidão da casa, do isolamento.

Consciente que neste momento de vida ou morte, o ISOLAMENTO É O SACRIFÍCIO INDIVIDUAL E SOCIAL A FAVOR DA VIDA.

Consciente também que em meus movimentos controlados para evitar a contaminação, não foi por acaso o resgate da lembrança da minha mãe e seu estímulo ao meu desenvolvimento intelectual, colocando-me uma esperança descabida - afinal de contas mãe é a origem da vida e a vida é o início de um processo de desenvolvimento - é esse eterno ir, mesmo contra todas as possibilidades...até o suspiro final, o último gesto que nos retira daqui e então o processo é envolvido pelo mistério da morte.

Em uma sociedade contaminada por um vírus mortal biologicamente – COVID19 - que ataca o corpo e leva ao último suspiro e também controlada por outro vírus maior ainda, cujo o nome me escapa aos sentidos neste momento, mas que se multiplica em diversos vírus menores como ódio, intolerância, discriminação, falta de empatia, irresponsabilidade, explodindo em uma falta de perspectiva para o futuro, descobri em mim que lembrar da minha mãe é um gesto simples de resistência, mas que me coloca de pé para fazer tudo aquilo que preciso fazer, mesmo que doa, mesmo que tudo dê errado, de pé, caminha, anda..... Ziza Fernandes - Tempo de Vitória | DVD Segredos (Official) - Bing video

 

 

 

 

 

 



 

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