Dia das Mães 10/05/2020
Ziza Fernandes - Tempo de Vitória | DVD Segredos (Official) - Bing video
"Foi ela que me ensinou a ficar de pé.
Mesmo que doa, fique de pé.
Mesmo que o sofrimento venha, fique de pé.
Mesmo que tudo seja diícil, de pe, anda..."
"Porque Deus te espera...."
Ziza Fernandes - música Tempo de Vitória
O motivo de compartilhar esse vídeo em homenagem a minha mãe são as palavras ditas no início da música:
"Foi ela que me ensinou a ficar de pé.
Mesmo que doa, fique de pé.
Mesmo que o sofrimento venha, fique de pé.
Mesmo que tudo seja difícil, de pé, anda..."
Essas palavras definem bem a minha mãe e a cultura onde fui criada e educada. Eu desconfio que a frase ....porque Deus te espera...é uma licença poética da cantora para compreender a força da própria mãe. Não sei as mulheres da geração da minha mãe possuíam essas palavras lindas para ensinarem a esperança as suas filhas....
Elas apenas afirmavam em tom de ordem, firmeza e determinação, de pé, anda de pé...e pronto e acabou. Simples assim. Não se questionava de onde viria a força, física ou psíquica para ficar de pé. Sua missão era simplesmente garantir que continuaríamos na luta, de pé, independente do que acontecesse.
Minh mãe jamais diria pra mim, de pé, porque Deus te espera....Acho que ela poderia no máximo dizer:
De pé, porque você não sabe o que te espera.
A frase de pé, levanta, anda...no mundo cultural onde fui criada era ensinada naturalmente as crianças, independente do sexo. Se a criança caísse, os pais olhavam e diziam pra ela:
De pé, levanta, anda... Era quase um mantra da educação infantil.
Essa cultura de ficar de pé era ensinada as próximas gerações, e as crianças um pouco maiores - a partir dos oito anos, talvez menos - já aprendiam com os mais velhos, que se as crianças menores caíssem não era pra sair correndo em direção a elas e colocá-las de pé. Era sim pra falar com voz calma mas firme, enquanto caminhávamos tranquilamente em direção a criança: fique de pé, você pulou, levanta, anda...
Uma vez, criança curiosa que eu era, provavelmente com os meus oito anos, perguntei pra minha mãe porque não se podia sair correndo para atender uma queda de criança. Acho que em minha sensibilidade eu achava essa prática um pouco cruel. Ela me explicou calmamente, que tem crianças que são manhosas e choram por qualquer coisa, e que se você sair correndo sempre que ela cair, ela vai ficar mais manhosa ainda. Disse também, que se a criança realmente tiver se machucado em uma queda ela não vai conseguir se levantar mesmo que você dê a ordem, e enquanto caminhamos em direção a criança a gente pode olhar e ver se realmente tinha se machucado, olhava se tinha sangue na boca, se a criança estava pálida, se estava com falta de ar, onde estavam as feridas. E se os machucados fossem na mão ou no joelho provavelmente não seria grave.
Fiz um esforço objetivo pra manter as palavras do jeito que a minha mãe falou. Agora escrevendo sobre isso, percebo que minha mãe, que tinha apenas quarta série primária me ensinou os princípios básicos de um diagnóstico psicológico e um plano de intervenção objetivo e claro em situações desafiadoras com crianças....Troque algumas palavras por objetivo, capacidade de observação e abstração, distanciamento da cena, intervenção calma...e pronto, você tem um discurso de psicologia infantil.
Que diferença da educação de hoje, onde em locais super, hiper, mega controlados, as mães olham para os seus filhos e falam não corre, porque se você correr vai cair. Em minha infância não era assim.... Vivíamos no sítio, corríamos, subíamos em árvores, mexíamos com o cachorro bravo, visitávamos a vaca brava com seu filhote, pegávamos goiaba nos sítios vizinhos, visitávamos rios alagados e no perigo corríamos, corríamos e corríamos, com a certeza silenciosa que se caíssemos teríamos de levantar e muitas vezes sair correndo de novo, sozinhos, sem defesa, sem socorro.
Não sei exatamente de onde vem a cultura de "ficar de pé" da minha infância, não sei se ela persiste até os dias de hoje. Mas tenho a leve desconfiança de que minha mãe aprendeu a ficar de pé na liturgia das Semanas Santas - as procissões pelas ruas da cidade, contemplando o flagelo e a morte de Jesus, o encontro de Jesus com sua mãe Maria, as três quedas de Jesus, a crucificação de Jesus com Maria aos pés da Cruz....a dor na caminhada, a multidão se acotovelando...sim provavelmente foi ali que minha mãe aprendeu a ficar de pé, mesmo que doa, de pé, levanta, anda....
Acreditando profundamente que VITÓRIA É O QUE VEM DEPOIS DA CRUZ - minha mãe viveu praticando essa fé inquebrantável e irracional.
Essa fé é irracional porque para as mulheres do tempo da minha mãe, a realidade cotidiana não oferecia grandes vitórias, mas muitas cruzes. É exatamente por isso que é fé, é absurdamente fé, manifestada em um gesto concreto de ficar de pé, de manter-se na luta, com essa esperança na VITÓRIA QUE VEM DEPOIS DA CRUZ, mesmo que demore, demore muito a chegar. Nossa fé vem do fato que continuaremos de pé, lutando, mesmo que doa, mesmo que tudo dê errado, nós continuaremos de pé, lutando, esperando e cantando...
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