Quarto texto da série.
E, ao cansar, deixa de fazer até mesmo aquilo que mais gosta - no meu caso, deixei de escrever por duas semanas.
Antes dos apressadinhos em diagnóstico de plantão definirem como depressão, quero defender mais intensamente que a CLASSE TRABALHADORA CANSA.
Faço a defesa do óbvio cansaço da classe trabalhadora, porque às vezes tenho a impressão que a negação contínua desse cansaço, através de mensagens disfarçadas de motivacionais, pode levar à depressão. E assim, em um paradoxo de ideias, onde o diagnóstico que deveria levar à cura, na verdade oculta a causa da doença, negando o cansaço, a fadiga, a estafa, cristalizando a doença em si.
Particularmente, também me canso ao perceber que existe no cotidiano da classe trabalhadora uma negação constante de realidades eminentes como o avanço do pensamento fascista no Brasil e no mundo, o aumento da violência contra a mulher, o aumento da violência policial e outras realidades assustadoras.
É como se, para suportar a dura realidade do cansaço cotidiano, vivêssemos uma dissociação quase que consciente:
- Em um minuto, temos consciência de tudo, no outro segundo estamos conversando sobre a próxima refeição e a festa de fim de ano. Essa dicotomia é exacerbada pelas mídias sociais, onde os mais diversos temas se sobrepõem.
Por isso mergulhei no cansaço, o contemplei à partir da intensa rotina que possuo e concluí que:
- Estamos cansadas porque, em um minuto, somos mobilizadas para a luta contra o fascismo, para em seguida ouvir que se trata de uma tendência mundial, e nossa mente faz uma associação automática de que, se está no mundo, não está na nossa alçada e essa associação nos paralisa a ação.
- Diria que estamos cansadas desse constante "balde de água fria" em nossa pulsão para a ação, onde o próximo passo da consciência que deveria ser a ação, não é realizado e recuamos para as nossas bolhas.
- Cansamos, porque estamos presas ao cotidiano, como se esse segurasse com garras nossas esperanças de lutar.
- Nos cansamos até mesmo de desviar o olhar.
- Nos cansamos de ouvir que devemos relaxar, parar, curtir a vida, como se quisessem nos paralisar enquanto o perigo nos ronda, tal qual fera faminta e insaciável.
O tempo urge, é preciso unificar velhos caminhos à novas tendências, então retorno à minha fé de infância enquanto me desdobro compartilhando mais uma mensagem do Evangelho de Cristo, mais uma denúncia de violência policial contra mulheres grávidas, mais assassinatos de algumas crianças. Alguns dirão que tudo que faço é inútil, eu "rebato" que se trata de um sonho de paz, produzido através de gestos suaves de consciência.
E vamos que vamos, porque 2025 está chegando....
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