Após as eleições municipais, circulou nas redes sociais o desafio da esquerda de fazer TRABALHO de base.
Recebi diversas mensagens com análises prós e contra o modelo da esquerda em Campanha Eleitoral. Muitas interpretações interessantes de pessoas cultas, mas nenhuma delas responde a minha ansiedade de mulher da classe trabalhadora em contato com a realidade.
É que, nos encontros e desencontros aqui em baixo, na concretude do cotidiano, as interpretações se perdem e não "dão conta" dos desafios impostos pela vida social.
Então decidi, eu mesma, sem falsa modéstia, partilhar as minhas experiências em trabalho de base:
No segundo turno da eleição presidencial de 2022, decidi fazer campanha intensamente para o Lula. NÃO fiz campanha no primeiro turno, no máximo uma postagem ou outra no status do whatsapp. Minha esperança era a vitória no primeiro turno. Sou mulher católica da classe trabalhadora: vivo da fé nos ensinamentos do Evangelho e da esperança que MILAGRES aconteçam em abundância. Somente quando isso não funciona é que vou abertamente para a luta. Nós temos muitas emergências - só vamos para a luta política intensa quando é a última opção.
Então, após a definição do primeiro turno da eleição, olho para o meu marido e falo com ênfase: “ESTOU EM CAMPANHA PELA ELEIÇÃO DO LULA - ESTOU EM MISSÃO!”
Relação pessoal resolvida, fui para o zap, mandei mensagens para amigas e amigos, organizei grupos, definimos estratégias de divulgação de conteúdos, ajudamos umas às outras na publicação de temas específicos e seguimos em frente. Divulgamos agenda, partilhamos angústias, discutimos soluções e confiamos.
Trabalhamos intensamente, lindamente, uma média de seis horas por dia. Deixamos de lado outras atividades como cuidados com a casa, leituras, orações e meditações, academia - nosso foco era fazer a campanha eleitoral para o Lula.
No domingo à noite, logo após a eleição do Lula, 95% das pessoas que haviam trabalhado comigo já estavam reorganizando a vida ao ritmo anterior ao da campanha: cuidar da família, terminar o mestrado, cuidar de suas comunidades orantes e enviar pelo zap as infinitas mensagens de votos de fé, bênçãos e gratidão.
A única explicação que eu tenho para isso é que a classe trabalhadora se cansa.
E esse cansaço vem do fato que nossas atividades são muitas, nossas agendas são naturalmente lotadas.
Não é falta de consciência política, não é falta de medo do neo fascismo que nos ronda todos os dias, não é falta de desejo que tudo mude para melhor e que a classe trabalhadora receba justiça por seu trabalho.
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