Mas não sem angústia.
As mensagens que mais me irritam são vídeos com conteúdos contraditórios. Me pergunto se as pessoas fugiram da escola ou desaprenderam as regras básicas de redação e produção de texto - introdução, desenvolvimento e conclusão. O famoso "começo, meio e fim" tão repetido na quinta série, ficou para trás. É a famosa pergunta popular, “o que o pato tem a ver com o ganso", sendo expulsa das comunicações cotidianas.
Tem também o que eu chamo de desonestidade intelectual. Que são pessoas falando de situações, realidades e ideias que elas nunca viveram.
Além disso, mas não menos grave, tem as mentiras deslavadas. Histórias “cheias de furo” que as pessoas acreditam com uma pureza absurda.
E o mais absurdo é que pessoas, de formação universitária, não percebem as contradições e partilham os vídeos.
Começo por citar cantores como Padre Fábio de Melo, Daniel, Paula Fernandes, Kell Smith, que vivendo em um luxo significativo cantam músicas como:
“Pra ser feliz / O quanto de dinheiro eu preciso? / Talvez a chave seja a simplicidade”, Daniel e Padre Fábio.
“Prefiro ouvir um eu te amo verdadeiro / Vale bem mais do que juntar todo o dinheiro / Porque ele não compra a cura para o sofrimento”, Paula Fernandes e Kell Smith.
Vejam bem, não sou contra a ideia de uma vida simples e pautada na ética do bem comum. Já abri mão de oportunidades profissionais/financeiras por ser fiel aos meus princípios, mas ver pessoas super bem sucedidas na vida cantando a simplicidade, me irrita um pouco.
O mais engraçado é que conheço padres que fizeram voto de pobreza na vida real, e que doaram e doam a sua vida pelo bem comum, e que quando conversam comigo ao vivo sobre meu papel na sociedade, a resposta é simples: “SIRVA À DEUS ONDE ELE TE COLOCOU”. Mas os fariseus do nosso tempo são um pouquinho mais complicados, primeiro porque alguns não sabem que são fariseus, colocam as sugestões de vida de forma lindamente poética e assim vão sobrecarregando as cargas nas costas da classe trabalhadora, que ao mesmo tempo que lutam para sobreviver, sem tempo para mais nada, precisam estar satisfeitos com o pouco que tem, enquanto levam fama de vagabundos e pessoas sem mérito.
Recentemente, recebi de um amigo da extrema direita, sim, pasmem, eu tenho amigos da extrema direita, um vídeo criticando o carnaval. Até aí “tudo bem”, porque ele é de uma religião evangélica e não gosta do carnaval. Mas no meio do vídeo, que associa o carnaval com o demônio, tinha a imagem do Lula, assim, sem mais nem menos. Pontuei isso para ele e QUASE respondi com a música do Maculelê:
“Oh Boa Noite pra quem é de Boa Noite.
Oh Bom Dia pra quem é de Bom dia!”
Com uma mensagem clara, que o direito a feriados e descanso foi conquista da classe trabalhadora, e que cada trabalhador faça do seu feriado o que bem entender. Mas mudei de ideia, pontuei que a imagem do Lula no meio do vídeo era algo descabido e enviei um vídeo que retrata o carnaval como a festa do povo que desafia o sistema capitalista e egoísta e sai para a rua cantando e dançando em um total despropósito.
Outro acontecimento foi na época da pandemia e a famosa frase: "a China que criou o vírus". Contra-argumentei racionalmente, dizendo que me parecia pouco provável um país atacar a si mesmo com um vírus misterioso com reações desconhecidas no organismo humano. Mas não adiantava. Até que um dia "apelei" e falei para minha interlocutora que a China poderia ter sofrido um ataque bacteriológico. Ela "virou uma fera" e me perguntou se eu tinha provas – eu disse apenas que amava filmes de espionagem. Confesso que me diverti com o tema.
Ainda na pandemia, surgiu uma mensagem até bonita, pedindo paz, respeito, união, compreensão, como se fosse de autoria do Mário Sérgio Cortella. Ele veio à público desmentindo a autoria de tal fala. Mesmo assim, teve pessoas respondendo para mim que iriam continuar repassando-a porque ela era bonita. “Só por Deus”.
Mas, graças ao bom Deus, teve pessoas que “coraram de vergonha” e pediram desculpas.
Recentemente pessoas me mandam mensagens sobre o direito de Israel se defender, pois é o povo escolhido. Essas pessoas parecem desconhecer que Israel entregou Jesus à Roma e exigiu a sua crucificação, que nos Dez Mandamentos diz “Olho por olho” e que Israel já extrapolou a muito tempo esse número.
E eu poderia ficar aqui, citando as diversas contradições que me chegam diariamente. O meu “Fio de Ariadne” consiste em identificar essas contradições, colocá-las no jogo de xadrez simbólico da minha alma e ir desfiando as ideias até transpor a minha percepção sobre o tema e se possível do meu interlocutor. É um “mecanismo” interessante, onde as partes evoluem no processo.
Mas como disse no início – isso não é feito sem angústia.
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