terça-feira, 17 de outubro de 2023

GRATIDÃO


Hoje, após passar pelo primeiro estágio de luto da perda do meu amigo, quando alguém me pergunta como estou, respondo de prontidão:

“ESTOU GRATA”

Estou grata porque fui salva do meu desespero por pessoas que vieram até mim com presteza e atenção, me oferecendo amor, atenção, carinho e, principalmente, disponibilizando o seu tempo para me acolher e oferecer colo por tempo indeterminado. 

Me ofereceram colo, silêncio e respeito. Sem garantias, sem expectativas, sem cobrança, sem pressão.

Esses comportamentos amigos e acolhedores me salvaram do medo, da ansiedade, da tristeza e do desespero que a morte do amigo me provocou. 

Tenho clareza que, a nossa sanidade mental, depende das amizades que possuímos e da sua capacidade de nos salvar em momentos desafiadores. Somos seres sociais. A ideologia capitalista nos diz que podemos ser felizes sozinhos(as). Estou convencida de que não conseguimos nem mesmo sobreviver sozinhos(as). 

E assim, faço abaixo a lista POSITIVA dos comportamentos AMIGOS que me ajudaram a ter forças e sobreviver mais um pouco:

“OBRIGADA”:

- a você que estava PRONTA a receber minha ligação a noite, me ouviu, organizou a viagem, o horário, o tempo...

- a você que viajou um total de quatro horas - ida e vinda - no mais profundo silêncio - respeitando o nosso jeito de viver a dor e nem aceitou o dinheiro do pedágio. 

- aos familiares do amigo, que nos acolhem como membros da família. Estou convencida de que amizade é a nossa maior família. 

- aqueles que nos deram informações objetivas sobre o ocorrido. 

- a quem cuidou de toda a parte prática do velório - as pessoas nem imaginam o trabalho e às vezes até a aventura que é isso!

- a quem foi no velório apenas para me dar um abraço e me acolher. 

- a quem estava no sítio para me receber após uma semana. 

- a quem manteve a agenda de visita ao meu sítio, aceitando que, se a vida trocou a alegria pela dor, o encontro pela saudade, deveria estar lá da mesma forma. 

- a todas e todos que fizeram companhia na missa de sétimo dia.

- a quem cantou na igreja para homenagear aquele que se foi e consolar os que ficaram, mesmo não professando a mesma fé. 

- a quem marcou a missa, avisou a todos, conseguiu autorização para o canto. 

- a todos os amigos que compareceram em nossa casa e partilharam a dor.

- aos amigos que foram e levaram peixe limpo e preparado para o consumo. 

- ao amigo que cuida dos cachorros, dando uma esperança de continuidade.

- aos cachorros que nos aceitaram como os novos donos. 

- àqueles que disseram frases que ajudaram a ressignificar o ocorrido:

Laredo, "pisou na bola" por ter morrido.

Ele foi antes do "cumbinado".

Foi então que comecei a rir da própria dor, do inevitável, da saudade. 

As frases que mais fizeram eco de vida em nossas mentes foram:

- você precisa continuar.

- vocês são mais fortes do que sabem.

- a morte me ensinou que preciso viver. 

- o que mais me chamou a atenção foi o AMOR existente entre todos. 

- os projetos precisam continuar.

- faremos uma homenagem. 

E assim a lista continua, agora é trabalho árduo para se manter na estrada. Hoje somos apoiados, amanhã seremos apoio. 

E vamos terminando por aqui, sempre com uma poesia especial:

"Quando os meus olhos não podiam ver

Tua mão segura me ajudou a andar" - Padre Fábio de Melo

Na verdade, você ofereceu a mão, emprestou o carro, foi o motorista e pagou a conta.

Não existe poesia capaz de traduzir isso. 

"Quando o meu sonho vi desmoronar

Me trouxeste outros pra recomeçar"

Humano Amor de Deus - Padre Fábio de Melo

Vamos que vamos, meninas, porque a vida pulsa e nosso amigo não era feito de paralisações e lamentações - nosso amigo era feito de movimento, sonhos e intensidades. Quantas vezes os sonhos dele se desmoronaram por completo e ele recomeçou do zero, literalmente do zero. 

Pelo menos eu não estou no zero - eu tenho vocês. 

GRATIDÃO.

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