Hoje, após passar pelo primeiro estágio de luto da perda do meu amigo, quando alguém me pergunta como estou, respondo de prontidão:
“ESTOU GRATA”
Estou grata porque fui salva do meu desespero por pessoas que vieram até mim com presteza e atenção, me oferecendo amor, atenção, carinho e, principalmente, disponibilizando o seu tempo para me acolher e oferecer colo por tempo indeterminado.
Me ofereceram colo, silêncio e respeito. Sem garantias, sem expectativas, sem cobrança, sem pressão.
Esses comportamentos amigos e acolhedores me salvaram do medo, da ansiedade, da tristeza e do desespero que a morte do amigo me provocou.
Tenho clareza que, a nossa sanidade mental, depende das amizades que possuímos e da sua capacidade de nos salvar em momentos desafiadores. Somos seres sociais. A ideologia capitalista nos diz que podemos ser felizes sozinhos(as). Estou convencida de que não conseguimos nem mesmo sobreviver sozinhos(as).
E assim, faço abaixo a lista POSITIVA dos comportamentos AMIGOS que me ajudaram a ter forças e sobreviver mais um pouco:
“OBRIGADA”:
- a você que estava PRONTA a receber minha ligação a noite, me ouviu, organizou a viagem, o horário, o tempo...
- a você que viajou um total de quatro horas - ida e vinda - no mais profundo silêncio - respeitando o nosso jeito de viver a dor e nem aceitou o dinheiro do pedágio.
- aos familiares do amigo, que nos acolhem como membros da família. Estou convencida de que amizade é a nossa maior família.
- aqueles que nos deram informações objetivas sobre o ocorrido.
- a quem cuidou de toda a parte prática do velório - as pessoas nem imaginam o trabalho e às vezes até a aventura que é isso!
- a quem foi no velório apenas para me dar um abraço e me acolher.
- a quem estava no sítio para me receber após uma semana.
- a quem manteve a agenda de visita ao meu sítio, aceitando que, se a vida trocou a alegria pela dor, o encontro pela saudade, deveria estar lá da mesma forma.
- a todas e todos que fizeram companhia na missa de sétimo dia.
- a quem cantou na igreja para homenagear aquele que se foi e consolar os que ficaram, mesmo não professando a mesma fé.
- a quem marcou a missa, avisou a todos, conseguiu autorização para o canto.
- a todos os amigos que compareceram em nossa casa e partilharam a dor.
- aos amigos que foram e levaram peixe limpo e preparado para o consumo.
- ao amigo que cuida dos cachorros, dando uma esperança de continuidade.
- aos cachorros que nos aceitaram como os novos donos.
- àqueles que disseram frases que ajudaram a ressignificar o ocorrido:
Laredo, "pisou na bola" por ter morrido.
Ele foi antes do "cumbinado".
Foi então que comecei a rir da própria dor, do inevitável, da saudade.
As frases que mais fizeram eco de vida em nossas mentes foram:
- você precisa continuar.
- vocês são mais fortes do que sabem.
- a morte me ensinou que preciso viver.
- o que mais me chamou a atenção foi o AMOR existente entre todos.
- os projetos precisam continuar.
- faremos uma homenagem.
E assim a lista continua, agora é trabalho árduo para se manter na estrada. Hoje somos apoiados, amanhã seremos apoio.
E vamos terminando por aqui, sempre com uma poesia especial:
"Quando os meus olhos não podiam ver
Tua mão segura me ajudou a andar" - Padre Fábio de Melo
Na verdade, você ofereceu a mão, emprestou o carro, foi o motorista e pagou a conta.
Não existe poesia capaz de traduzir isso.
"Quando o meu sonho vi desmoronar
Me trouxeste outros pra recomeçar"
Humano Amor de Deus - Padre Fábio de Melo
Vamos que vamos, meninas, porque a vida pulsa e nosso amigo não era feito de paralisações e lamentações - nosso amigo era feito de movimento, sonhos e intensidades. Quantas vezes os sonhos dele se desmoronaram por completo e ele recomeçou do zero, literalmente do zero.
Pelo menos eu não estou no zero - eu tenho vocês.
GRATIDÃO.
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