terça-feira, 20 de setembro de 2022

VAMOS FALAR DE POLÍTICA

 

QUANDO A RELAÇÃO TRABALHISTA REQUER MILAGRES


Você sabe como era a vida do trabalhador rural antes das leis trabalhistas se efetivarem neste meio?

Acredito que a história que vou contar tenha se passado mais ou menos em 1961 ou 1962:

Quando meu pai era jovem, tinha apenas dois filhos, foi morar em uma fazenda, para trabalhar a meia, isto é, o empregado ia morar na fazenda, plantava a roça, e depois dividia a colheita pela metade com o dono.

E meu pai assim o fez. Roça bem plantada, bem cuidada, natureza contribuiu com chuva no tempo certo e em quantidade adequada. O resultado foi uma colheita farta e já estava claro que se viveria um período de fartura.

Acordo feito, divisão justa, trabalho recompensado...

SÓ QUE NÃO!

No momento da divisão da colheita, o dono da fazenda simplesmente olhou para o meu pai e disse:

“Pode pegar as suas coisas, deixar a  casa, levar sua família. Você NÃO vai levar a sua parte da colheita”.

E começa aquilo que o mineiro chama de "demanda" - a melhor definição para expressão do significado dessa palavra, em Minas Gerais, seria conflito. 

Meu pai, homem de decisão e de fé decide que não vai ceder - queria o que era seu por direito: o fruto do seu trabalho.

Primeiro consulta o benzedor da família, que lhe aconselha a comprar uma garrucha - dois canos - e lhe diz:

“VOCÊ NÃO VAI ATIRAR PRIMEIRO, SE LHE ATIRAREM NÃO VÃO TE ACERTAR, ENTÃO VOCÊ TEM "LICENÇA" PARA REVIDAR”.

Sempre achei essa parte da história engraçada, porque boa pontaria nunca foi uma das habilidades do meu pai. Do ponto de vista prático, objetivo, realista, concreto, racional, ele atirar ou não, não faria qualquer diferença.

Mas meu pai seguiu a orientação do Sr. Gino. Comprou a garrucha e decidiu não atirar primeiro. Estava decidido que só sairia da fazenda com a sua parte da colheita ou morto.

Mas para concretizar a sua decisão, tinha de enfrentar outro empecilho:

Precisava de um carro de boi para transportar a colheita. Um carro de boi precisa de um carreiro e de um candeeiro para ser manejado. O candeeiro, normalmente era uma criança que ia na frente do carro de boi, indicando o caminho.

Mas a família poderosa, com dinheiro, força física e armas, avisou na região que não aceitaria qualquer carro de boi em suas terras. Que se alguém entrasse, seria recebido à bala. Então nenhum carreiro da região queria fazer o serviço. Além do mais, poderiam ser perseguidos depois, não sendo contratados para serviços futuros.

A resposta veio de forma mística - estava meu pai em uma "venda" - local que é uma mistura de mercearia e bar - quando um carreiro se aproxima dele e diz: “Fiquei sabendo que você está precisando de um carro de boi. Meu preço é "tanto". Mas quero que saiba que não vou me envolver na contenda, minha função é só ir lá e pegar a colheita”.

E assim meu pai marcou a data da retirada da colheita, reuniu os amigos e, todos armados, foram até a fazenda. O fazendeiro, com os seus filhos e capangas, também armados, apenas os observaram entrar, retirar a parte que cabia ao meu pai e ir embora.

Nem mesmo, quando criança, entendia porque essa história teve um final feliz. Muito menos agora.

Contei essa história, na esperança que as pessoas compreendam o que significa viver em um mundo em que o trabalho não é regulado pela justiça - um mundo sem Ministério Público do Trabalho, sem juiz, sem regras, sem lei, e com as flexibilizações das normas que regulam o trabalho.

E, como minha esperança não tem tamanho, desejo que as pessoas entendam o que significa escolher na próxima eleição, políticos que votaram a favor da Reforma Trabalhista. Porque, se você não tem um benzedor do nível do Sr. Gino, um homem totalmente voltado para sua missão espiritual na terra, não tem amigos para te acompanhar em situações de perigo e nem profissionais corajosos para desafiar o sistema, é muito provável que o seu salário não seja retirado no dia do pagamento.

E agora José?

O que você fará quando conseguir o mundo que deseja e pelo qual luta?

Pense e repense seu voto…

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