segunda-feira, 29 de novembro de 2021

ESPERANÇA

Hoje encerra o período da triagem e do atendimento contingenciado devido a covid. Estamos vivendo a esperança de que tudo vai passar.
O retorno ao atendimento presencial vai se dar, mas não será como eu imaginei. Não sairemos juntos, não beberemos com novos e antigos amigos. Não apresentaremos nossos familiares. Simplesmente é o novo normal profissional que se instala, sem a possibilidade de encontros e comemorações. Sem alegrias, sem bebidas e churrasco, sem orações, sem louvores, sem ação de graças e sem exultações.
A festa para comemorar a casa nova - alugada - cuja mudança ocorreu em Dezembro de 2020, não ocorrerá, porque a alegria do novo já se foi.
Nesta casa meu marido fez uma bela horta, e no meio das tensões da pandemia e da mudança que se fez necessária, fiz uma proposta absurda para o meu chefe:
Quando acabar a pandemia faremos um churrasco pra comemorar a mudança. O acordo é o seguinte: EU OFEREÇO A CASA E A SALADA E VOCÊ A PICANHA. A PICANHA DEVE SER PAGA, PREPARADA E ASSADA POR VOCÊ. A parte engraçada é que ele concordou.
Mas a festa para comemorar a mudança não ocorrerá porque nada mais é novo - a casa, as brincadeiras, a esperança de que tudo acabaria antes do próximo Natal. Se quisermos festas teremos de inventar novos motivos para a sua realização.
Apesar do medo do novo que virá entendo que é hora de fechar um ciclo.
Durante o período de Março de 2020 a Novembro de 2021 vivemos uma grande aventura. E o melhor de tudo é que sobrevivemos a ela. Não perdemos nenhum dos nossos. Nenhum dos nossos peões foi derrubado no jogo tenebroso da morte por covid, o que por si só é um milagre. Portanto, até aqui é hora de Ação de Graças.
O período inicial de março de 2020 a março de 2021 foi mais desafiador. Éramos apenas três funcionários para fazer o atendimento de toda a demanda. Mas o que é fantástico é como em situações extremas, as pessoas conseguem se organizar para enfrentar os desafios e superá-los. Enfrentamos o atendimento diário, com classe, elegância e bom humor. "De quebra" ainda cumprimos as metas.
Fui privilegiada neste período, talvez em termos de empresa tenha sido o meu período mais feliz. Brincávamos, brigávamos e ríamos para superar a tensão. Amigas que conhecem outra realidade de outros setores e de outras empresas me diziam que eu "estava no céu".
Apostamos a favor de nós mesmos, preocupados com o bem estar uns dos outros - alguém perdeu a aposta, porque na dinâmica das apostas alguém sempre tem de perder, mas neste caso específico, na dinâmica social ganhamos em bem estar.
Ao chegar no local de trabalho em Março de 2020 início da pandemia percebi que ali havia uma dinâmica diferente, especial. Brinquei em relação a dinâmica grupal:
AQUI NÃO SE PRATICA ASSÉDIO - AQUI SE PRATICA BULLYING. VOLTEI PRO ENSINO MÉDIO SEM SABER.
E eu sempre tão contida e séria, me adaptei ao proposto pelo grupo e também brinquei, sorri, chorei, falei, briguei, pedi perdão e perdoei.
Das brincadeiras intensas me lembro especialmente um dia, que estando apenas em dois no local de trabalho disse ao colega que faria a triagem de "boa". Ele demonstrou preocupação. Do pedestal do meu salto alto, fiz um discurso acalorado dizendo que eu tinha experiência em triagem, que sabia conversar, direcionar e que daria tudo certo. O colega confirmou se eu estava bem e concordou com minha proposta. E lá fui eu fazer a triagem toda segura de mim. E assim o fiz, pelo "amplo período de tempo de duas horas", quando voltei para o colega e disse EFUSIVAMENTE - estou indo almoçar porque se eu ficar mais 01 minuto naquela triagem vou surtar. Ele me olhou serenamente e falou: VOCÊ FICOU LÁ DUAS HORAS, É JUSTO DAR UM TEMPO.
Outro momento muito especial, foi quando colocaram a música Fico Assim Sem Você - https://www.youtube.com/watch?v=a24FZteiHEE - Se não fosse a pandemia eu teria abraçado demoradamente todos os membros da equipe. E claro eu choraria muito. A letra da música diz muito, porque éramos tão poucos na equipe, que se algum de nós não estivesse no local de trabalho, pronto para o trabalho árduo, o outro estaria muito "ferrado".
Deste período levarei apenas lembranças boas. É interessante como Deus, a vida, às vezes nos protege carinhosamente. Não sabemos porque isso acontece. A doutrina católica explica que é a GRAÇA DE DEUS agindo em nossa vida, e devemos apenas aceitar, agradecer e nos esforçarmos para usar essa *GRAÇA* a favor do bem comum.
Como não teremos festas reais para fechar esse período, partilho aqui uma música que conheci recentemente que provocou em meu espírito uma verdadeira festa espiritual:
Oswaldo Montenegro - "Sem Mandamentos". Música pra fazer feliz! https://www.youtube.com/watch?v=TcvUEwCgdr4
Agora que se encerra esse período inicia-se um novo ciclo de vida profissional, que apresenta nova dinâmica e portanto novos desafios. Tem uma frase do Chico Xavier que diz: QUANDO RESOLVERES UM PROBLEMA COMECE A SE PREPARAR PARA RESOLVER O PRÓXIMO.
Tudo mudou, as brincadeiras que aliviavam as tensões já não possuem a mesma função na dinâmica grupal, os problemas e as preocupações são outras, a lista de desafios se transforma em vários outros itens que requer reflexão, mudanças, adaptações. Como diz meu marido, para indicar a dinâmica da vida - É O PROCESSO - onde os movimentos simbólicos ocorrem de forma muitas vezes intensas e desafiadoras, mas que sempre inicia um novo ciclo em que podemos recomeçar a partir da aprendizagem ocorrida no ciclo anterior.
Mas a nova cepa do vírus que surgiu na África ataca a Europa e já se tem informações precisas que chegará ao Brasil. a única pergunta é quando. Assim voltamos ao "normal" de máscara, contendo as lágrimas e o desespero, na solidão de um rosto coberto, mas aprendendo a FORTALECER o espírito enquanto se pratica intensamente o DISTANCIAMENTO SOCIAL.
Ressignificando a SOLIDÃO na perspectiva espiritual, aprendi a pensar o distanciamento social com a proposta do Evangelho de que NÃO PERTENCEMOS A ESTE MUNDO, apenas vivemos nele. Assim OFERTO A DEUS MEU SACRIFICIO DE SOLIDÃO E DISTANCIAMENTO SOCIAL FÍSICO, NA ESPERANÇA QUE A AÇÃO ORANTE CHEGUE AOS CÉUS E SEJAMOS LIBERTOS.
Mas como sou mulher e aprendi com minha mãe, no interior de Minas Gerais, a viver "COM UM OLHO NO GATO E OUTRO NO PEIXE", enquanto uma parte de mim PRATICA O DISTANCIAMENTO FÍSICO DOS CORPOS QUE ESTÃO PRÓXIMOS E REZA, outra parte se informa sobre a política, as pesquisas, a posição sindical sobre o tema, trabalha em formação e preparação de pessoas para o enfrentamento da pandemia, ajuda a campanha de cesta básica da minha paróquia, medito, reflito, etc....
Meu Deus, a lista não acaba! Saudades do tempo em que tudo que eu tinha de fazer era vigiar o peixe para que o gato não o pegasse e assim teria mistura para o almoço. VIVER SE TORNOU ALGO MUITO AMPLO E PERIGOSO.

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